quarta-feira, 29 de agosto de 2012

ANTÁRTIDA ESTÁ PASSANDO POR AQUECIMENTO ACELERADO.


Pesquisas como nunca antes realizadas sobre as geleiras da Antártida ajudam a compreender a dinâmica de aquecimento dos últimos 15 mil anos, especialmente a rápida elevação recente nas temperaturas.
Resultados publicados nesta semana por um grupo de cientistas polares da Inglaterra, Austrália e França oferecem um nova dimensão para a compreensão das mudanças climáticas na Península Antártica, que se prolonga cerca de 1,3 mil km ao norte da Antártica em direção à América do sul, e das prováveis causadas do desprendimento recente de geleiras.

A primeira reconstrução abrangente dos últimos 15 mil anos na história climática da região, período onde houve o término da última Era Glacial e a Terra entrou no atual período mais quente, foi realizada através de coletas de testemunhos de gelo na Ilha James Ross.

Um dos objetivos da pesquisa, assim como de muitas outras similares ao redor do mundo, é tentar distinguir se o aquecimento global é natural ou a partir de quando tem um empurrão das atividades antrópicas.

“Sabemos que algo incomum está acontecendo na Península Antártica”, alertou o principal autor do estudo, Dr. Robert Mulvaney, do British Antarctic Survey (BAS).

Os cientistas comprovaram o aquecimento acelerado da península nos últimos 100 anos. As temperaturas médias na Ilha James Ross subiram quase 2ºC nos últimos 50 anos, fazendo da Península Antártica um dos locais com aquecimento mais acentuado ao redor do globo.

Este salto não é nada convencional comparado com o aumento mais lento das temperaturas registrado nos 600 anos anteriores.

Os cientistas explicam que estes séculos de aquecimento gradual, que culminaram no evento mais acentuado recente, já significariam que as geleiras da península estavam destinadas a se desprender, como observado a partir da década de 1990.

Mulvaney comentou que ao longo do testemunho de 364 metros de gelo estão camadas de neve que caiu anualmente nos últimos 50 mil anos e que análises químicas sofisticadas foram usadas para recriar as temperaturas.

“O que vemos no registro de temperaturas do testemunho de gelo é que a Península Antártica aqueceu cerca de 6ºC ao sair da última era do gelo. Há 11 mil anos a temperatura havia subido 1,3ºC a mais do que a média atual e outras pesquisas indicam que naquela época a cobertura de gelo estava diminuindo”, comentou.

“Então o clima local esfriou em dois estágios, alcançando um mínimo há cerca de 600 anos. As geleiras do norte da Península Antártica expandiram durante este resfriamento. Aproximadamente há 600 anos, a temperatura começou a subir novamente, culminando em um aquecimento mais rápido nos últimos 50 a 100 anos, que coincide com a desintegração e retração presente das geleiras”, conclui.

O coautor do estudo Dr. Nerilie Abram, ex-pesquisador do BAS e atualmente da Universidade Nacional da Austrália, teme que se o aquecimento continuar a cobertura de gelo mais ao sul da península, estável há milhares de anos, também se torne vulnerável.

Fonte: Instituto CarbonoBrasil

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

DOCUMENTÁRIO: O SILÊNCIO DAS ABELHAS.


As abelhas tem um papel fundamental na nosso mundo, elas polinizam grande parte das árvores de fruto que nós e inúmeras outras espécies vitais para o equilíbrio na natureza. E se de repente alguém lhe disser que as abelhas estão a desaparecer e todo o ciclo de polinização está em risco de colapsar. Na realidade é exactamente isso que está a acontecer!

(EUA, 2007, 54 min.)
As abelhas surgiram na terra há 100 milhões de anos e tem sua evolução totalmente ligada as flores.
Mas com o Agronegócio, seu habitat está sendo devastado, seu ar poluído, seu pólen contaminado com pesticidas carregados de neurotoxinas, gerando um processo suicida: sem elas não haverá colheita.
Por causa disso, apicultores sobre rodas levam suas colmeias de um extremo ao outro dos EUA. As mesmas abelhas trabalham na Flórida e na Califórnia e fazem longas viagens de caminhão para polinizarem as plantações.

Mas agora elas estão desaparecendo rapidamente no mundo todo, pondo em risco a alimentação como a conhecemos. Somente nos EUA 1/3 delas se foram. A contínua redução das populações não se restringe apenas às abelhas, mas também às borboletas e outros insetos vitais para a planta.
A polinização de 3/4 das plantas dependem de insetos polinizadores.

sábado, 18 de agosto de 2012

O QUE ESTÁ MUITO RUIM, AINDA VAI PIORAR: MEDIDA PROVISÓRIA DO CÓDIGO FLORESTAL.


Retomada a votação dos destaques do código florestal semana passada, houve acordo entre membros da comissão mista para que somente 38 dos 343 destaques fossem apreciados. Começaram a ser debatidos e votados 30 destaques ruralistas para afrouxar a proteção ambiental e 8 destaques para aprimorar a Lei. Dos destaques votados e já aprovados, ressalto dois:

Conceito de pousio

Governo acorda com seus ruralistas que 100% dos imóveis, independentemente do tamanho e da região, poderá ser considerado área sob regime de pousio. Pousio é técnica rudimentar usada por agricultores tradicionais (principalmente quilombolas, indígenas e agricultores familiares) de deixar uma área "descansar" para melhorar a produtividade depois de alguns anos de uso.  A proposta em vigor estabelece prazo máximo de 5 anos e limitação a até 25% dos imóveis. Com a proposta aprovada pela comissão hoje, um imóvel com 100% de área desmatada (ilegalmente) e abandonada por até 5 anos poderá ser classificada como "pousio" e, consequentemente, ser enquadrada como área rural consolidada. A vegetação em recuperação poderá ser desmatada novamente em 100% da área em função do conceito de área rural consolidada (área desmatada até julho de 2008).

Desproteção de rios intermitentes 

Por 15 votos a 12 foi aprovado que somente poderão ser consideradas de preservação permanente as margens de rios e lagoas perenes. Com isso, por exemplo, mais de 50% dos pequenos rios do cerrado e do semiárido perderão a proteção de sua vegetação ciliar. Isso significa não somente mais desmatamentos, como principalmente a desproteção de rios em áreas muito sensíveis e vulneráveis. O que agrava a situação é que esse dispositivo não poderá ser objeto de novo veto presidencial, pois se trata de um dispositivo que sustenta todas as Áreas de preservação permanente.

Também começou a ser debatida a proteção das veredas. A votação não aconteceu, pois a sessão foi suspensa. Mas o resultado, se o Planalto não mudar a tática, já se sabe qual será. Mais um desastre ambiental à vista.

A votação será retomada no dia 28 de agosto e, de acordo com um parlamentar do PT que tem um papel importante na Comissão Mista, há a possibilidade de o governo mudar algumas "peças" da comissão para tentar evitar mais perdas. Ou seja, alterar a composição para ganhar mais alguns votos já que as votações foram apertadas.

Entre os parlamentares que votaram a favor dos desastres ambientais acima citados destacaram-se a Senadora Ana Amélia (PP-RS), o Senador Moka (PMDB-MS), o Senador Blairo Maggi (PR-MT), a Senadora Katia Abreu (PSD-TO) e vários deputados que compõem a base do governo no congresso nacional.

Portanto, não é uma derrota do governo. Mas sim uma vitória do governo ruralista que driblou a Rio+20, entregou a rapa-dura e até aqui deu o seguinte recado: "virem-se os parlamentares que selaram o acordão com Kátia Abreu e Cia (i)Ltda no Senado". Por enquanto é isso!

 Autor: André Lima   -   Fonte: IPAM

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

NORMAS PARA GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE EM EVENTOS SERÁ LANÇADA EM SP.

Acontecerá no próximo dia 13 de agosto, a partir das 19h, o lançamento da ABNT NBR ISO 20121:2012, norma de gestão que visa privilegiar o uso de práticas sustentáveis na organização de eventos de qualquer natureza. Seu lançamento, seguido de coquetel, será no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo. O evento contará com a presença de associações do setor de eventos e turismo e de autoridades públicas.

A norma internacional ISO 20121, que teve a participação de 35 países, tendo a Inglaterra na coordenação e o Brasil, através da ABNT, na secretaria geral, foi utilizada para que a Olimpíada de Londres fosse organizada de maneira sustentável.

Graças aos esforços de diversas associações, entidades e órgãos governamentais brasileiros ligados direta ou indiretamente à área de eventos, e que tiveram participação ativa na elaboração, a Norma foi traduzida e publicada. Prevê-se que ela seja utilizada para a organização da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016, ambas sediadas no Brasil.

De acordo com Daniel de Freitas, diretor de Sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Eventos (IBEV), chefe da delegação brasileira e coordenador da Comissão de Estudo Especial de Sustentabilidade na Gestão de Eventos (ABNT/CEE 142), que participou da elaboração da ISO 20121, vale destacar que as regras são de cunho orientativo. "A Norma é por conformidade, e suas metas são voluntárias, porque dependem do caráter de cada evento", afirma. Sua aprovação foi apenas a primeira etapa e, como toda norma, no decorrer do tempo passa por aperfeiçoamentos e adequações de acordo com a realidade de cada país.

Descomplicada de ser implementada, a Norma auxiliará as empresas nas tomadas de decisões, no que diz respeito ao uso da sustentabilidade em suas atividades relacionadas a eventos. Ela se adéqua aos diversos tipos e tamanhos de organizações envolvidas no projeto e execução de eventos, e acomoda diferentes condições geográficas, culturais e sociais.

As empresas que têm o interesse de promover eventos em conformidade com a ISO precisam, em primeiro lugar, definir as questões internas e externas relevantes à sustentabilidade e à finalidade de seu evento. Nesse contexto, a organização deve identificar quais os públicos de interesse com relação a seus eventos e, a partir daí, adotar procedimentos para avaliar os impactos nos âmbitos ambiental, social e econômico gerados de/para esses públicos.

Podem ser considerados, entre outros, os seguintes impactos:

Aspectos ambientais - utilização de recursos, escolha de materiais, conservação de recursos, redução das emissões, preservação da biodiversidade e da natureza, emissão de poluentes no solo, na água e no ar, transporte e logística, descarte de resíduos, etc.

Aspectos sociais - normas de trabalho, saúde e segurança, liberdades civis, justiça social, comunidade local, direitos indígenas, questões culturais, acessibilidade, equidade, patrimônio e sensibilidades religiosas, inclusão, geração de empregos e renda, comunicação, capacitação, legados, etc.

Aspectos econômicos - retorno sobre o investimento, incentivo à economia local, capacidade do mercado, valor das partes interessadas, inovação, impacto econômico direto e indireto, presença de mercado, desempenho econômico, risco, comércio justo e participação nos lucros, ética, geração de renda e emprego, etc.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

TRF1 DETERMINA PARALISAÇÃO DAS OBRAS DE BELO MONTE.


O Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) determinou a paralisação das obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. A decisão foi tomada após o tribunal identificar ilegalidade em duas etapas do processo de autorização da obra, uma no Supremo Tribunal Federal (STF) e outra no Congresso Nacional. Caso a empresa Norte Energia não cumpra a determinação, terá de pagar multa diária de R$ 500 mil.

A decisão foi do desembargador Souza Prudente, em embargo de declaração apresentado pelo Ministério Público Federal no Pará (MPF/PA). Os procuradores da República haviam entrado, anteriormente, com uma ação civil pública (ACP) pedindo a suspensão da obra, mas o pedido fora recusado. A Norte Energia informou à Agência Brasil que só vai se manifestar nos autos sobre a decisão.

“Na decisão anterior, o desembargador Fagundes de Deus partiu de premissa equivocada, de que STF tinha declarado a constitucionalidade do empreendimento. Só que esse julgamento não foi feito. O que houve foi uma decisão monocrática da [então presidenta] ministra Ellen Gracie, de atender pedido de liminar da AGU [Advocacia-Geral da União], quando a matéria só poderia ter declarada sua constitucionalidade se aprovada por dois terços da composição plenária da suprema corte”, disse à Agência Brasil o relator do embargo de declaração, desembargador Souza Prudente.

Segundo ele, houve vícios também na forma como o Congresso Nacional tratou da questão. “A legislação determina realização prévia anterior à decisão pelo Congresso Nacional, e o que houve foi uma oitiva posterior [à autorização da obra]”, explicou o desembargador.

“O Congresso Nacional fez caricatura e agiu como se estivesse em uma ditadura, colocando o carro na frente dos bois. Com isso acabou tomando uma decisão antes mesmo de ter acesso aos estudos técnicos –  feitos por equipe multidisciplinar, apontando previamente os impactos ambientais da obra –  necessários à tomada de decisão”, argumentou o desembargador.


Fonte: Agência Brasil

domingo, 12 de agosto de 2012

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E CRISE ALIMENTAR.

Os desastres ambientais já estão provocando o início de uma crise alimentar no mundo contemporâneo, para a surpresa daqueles que pensavam que as mudanças climáticas eram um fenômeno que só iria afetar as futuras gerações.

O aquecimento global tem provocado efeitos climáticos extremos, como por exemplo, muita seca em algumas regiões e muita chuva em outras. Os Estados Unidos da América (EUA) e a China são as duas maiores economias do Planeta e os dois maiores produtores de alimentos do mundo. A Índia, a despeito da enorme pobreza, é um dos países que apresentam maior crescimento populacional e econômico nos últimos tempos. Os três países mais populososos do planeta estão sofrendo os efeitos das mudanças globais provocadas pelo aquecimento global, resultado da emissão desenfreada de gases poluentes de efeito estufa.

A seca nos Estados Unidos em 2012 deve repercutir em todo o mundo, pois a economia americana é responsável por quase metade das exportações mundiais de milho e boa parte das exportações de soja e trigo. O custo das carnes ainda não subiu porque, por enquanto, os rebanhos estão sendo abatidos aumentando a oferta, mas os preços provavelmente subirão até o fim do corrente ano. As chuvas excessivas na China tem reduzido a produção de alimentos, enquanto uma queda da precipitação provocadas pelas monções na Índia devem reduzir a produção mundial de arroz (a seca também tem sido severa no sertão nordestino do Brasil no corrente ano).

O índice de preços dos alimentos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), embora em patamares elevados, vinha caindo ao longo do ano de 2012. Porém, as chuvas na China, as menores precipitações na Índia e a pior seca dos últimos 50 anos que atingiu os EUA provocaram a reversão das tendências, acelerando a tendência de aumento dos preços de alguns produtos agrícolas, devendo ter um impacto em outras commodities nos próximos meses. Há ainda a competição entre produção agrícola para a alimentação e para energia e biocombustíveis

No dia 09 de agosto, a FAO atualizou os dados para julho de 2012. O Índice de Preços dos Alimentos chegou a 213 pontos em julho de 2012, 12 pontos (6%) acima daquele do mês anterior, mas ainda abaixo do pico de 238 pontos atingido em fevereiro de 2011. O aumento atual ocorreu devido ao salto nos preços dos grãos e açúcar, com aumentos mais modestos de óleos e gorduras. Os preços internacionais da carne e produtos lácteos foram pouco alteradas até o momento, mas devem subir até o final do ano.

O Índice de preços dos cereais chegou na média de 260 pontos em julho, 38 pontos (17%) acima dos preços de junho e apenas 14 pontos abaixo do seu ponto mais alto (em termos nominais) de 274 pontos registrados em abril de 2008. Segundo a FAO, a grave deterioração das perspectivas de colheita de milho nos Estados Unidos, na sequência de condições de seca e calor excessivo, empurrou para cima os preços do milho em 23% em julho. Cotações internacionais do trigo também subiram (19%), em meio a uma piora das perspectivas de produção na Russia e aumento da demanda demográfica.

Portanto, os preços dos alimentos voltaram a apresentar uma tendência de alta, mesmo em uma situação de desaceleração da economia internacional. Este vai ser o grande desafio da segurança alimentar no século XXI: lidar com o aumento da demanda decorrente do aumento populacional e do crescimento da classe média mundial em um quadro de aumento do preço dos combustíveis fósseis e dos impactos negativos das mudanças climáticas provacadas pelo aquecimento global.

O aumento do preço dos alimentos foi um dos estopins da Primavera Árabe. Uma nova crise alimentar poderá ser a centelha de novas revoltas pelo mundo afora, especialmente entre as gerações jovens e desalentadas. Além disto, existem, globalmente, cerca de 1 bilhão de pessoas em situação de insegurança alimentar. O aumento do preço dos alimentos, num quadro de crise econômica na área do Euro e de desaceleração da economia global, pode provocar uma grande queda no padrão de vida da comunidade internacional, atingindo, principalmente, as camadas mais pobres e vulneráveis da população mundial. A alternativa milagrosa do crescimento econômico não é mais visto como uma panaceia, pois seus efeitos deletérios estão cada vez mais presentes.

Já o decrescimento econômico só seria benéfico para o meio ambiente e para a sociedade se viesse acompanhado de uma grande redução dos níveis de desigualdade e uma diminuição acentuada do consumo conspícuo das parcelas ricas do planeta. Mas uma recessão acompanhada de aumento do preço dos alimentos só vai aumentar o fosso que separa os incluidos e os excluidos da sociedade.

O fato é que o aumento das atividades antrópicas está provocando mudanças climáticas cada vez mais desastrosas. O diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa, James Hansen, disse para a BBC, que “A mudança climática está aqui e é pior do que pensávamos”. Ele disse que foi otimista, quando testemunhou diante do Senado americano, no verão de 1988, quando traçou “um panorama obscuro sobre as consequências do aumento contínuo da temperatura impulsionado pelo uso de combustíveis fósseis”. Segundo Hansen, que está cada vez mais pessimista, os verões de calor extremo registrados recentemente em diversos pontos do planeta provavelmente são resultado do aquecimento global.

Portanto, o efeito da interferência humana no clima pode provocar uma séria crise alimentar, como está indicando a tendência do índice de preço dos alimentos da FAO para julho de 2012. Atualmente a concentração de CO2 está em 390 partes por milhão (ppm), mas ultrapassando 400 ppm provocará secas ainda maiores. Portanto, é necessário reverter urgentemente o aquecimento do clima e do preço da comida.



Autor: José Eustáquio Diniz Alves   -   Fonte: EcoDebate

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

NASA: APENAS AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS EXPLICAM EVENTOS RECENTES.

Análise estatística demonstra que ondas de calor por todo o planeta ficaram pelo menos 50% mais comuns graças ao aquecimento global e leva cientista a afirmar que previsões passadas foram muito otimistas.


"Quando testemunhei perante o Senado no quente verão de 1988, alertei para o tipo de futuro que as mudanças climáticas trariam para o nosso planeta. Desenhei um cenário desolador, com o aumento das temperaturas sendo resultado do uso de combustíveis fósseis. Mas eu tenho uma confissão para fazer: eu estava sendo muito otimista.”

Este é o início do artigo “Mudanças Climáticas estão aqui – e piores do que pensávamos”(Climate change is here — and worse than we thought) publicado por James Hansen, diretor do Instituto de Estudos Espaciais Goddard da NASA, no jornal Washington Post, na última sexta-feira (3 de agosto).

O artigo foi divulgado em conjunto com uma análise estatística, publicada no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), na qual climatologistas, incluindo James Hansen, concluem que ondas de calor estão mais comuns e passaram a cobrir áreas maiores.

Hansen salienta que o novo trabalho não é uma previsão. “Não fizemos um modelo climático, este estudo é fruto de observações reais de eventos climáticos e temperaturas que aconteceram.”

“Nossa análise mostra que não é mais suficiente dizer que o aquecimento global aumentará a probabilidade de clima extremo e repetir que não podemos relacionar um evento individual às mudanças climáticas. Ao contrário, nossa análise deixa claro que para o calor extremo no passado recente não há outra explicação que não as mudanças climáticas”, afirmou Hansen.

De acordo com a análise, entre 1981 e 2010 ondas de calor extremo cobriram 10% do planeta, representando um aumento de até 100% da área coberta entre 1951 e 1980.

A análise não apenas afirma que as ondas de calor se expandiram devido ao aquecimento global, como também demonstra que o chamado calor moderado (quando as temperaturas estão 50% acima do que seria o esperado) mais do que dobraram, passando de 33% para 75% no mesmo período.

“Podemos declarar, com alto grau de confiança, que anomalias extremas como as vistas no Texas e Oklahoma em 2011 e em Moscou em 2010 foram consequências do aquecimento global”, escreveu Hansen.

O verão de 2011 foi o mais quente da história nos estados norte-americanos do Texas e Oklahoma. Já na Rússia, o verão de 2010 teve as temperaturas mais elevadas em 130 anos de registros.

A análise publicada no PNAS destaca que “uma pessoa com idade suficiente para lembrar-se do clima entre 1951 e 1980 é capaz de perceber a existência das mudanças climáticas, especialmente no verão”.

Os pesquisadores reconhecem que condições climáticas locais obviamente atuam nos eventos extremos, mas que as mudanças climáticas são agora um fator fundamental.

“Não é incomum que meteorologistas rejeitem o aquecimento global como a causa desses eventos, oferecendo outras explicações meteorológicas. Por exemplo, foi afirmado que a onda de calor em Moscou foi causada por uma situação de ‘bloqueio’ atmosférico e que a do Texas foi resultado de alterações nas temperaturas oceânicas decorrentes do La Niña. Entretanto, ‘bloqueios’ e La Niña sempre foram comuns e os eventos em questão só aconteceram agora que o aquecimento global está atuando”, argumenta a análise.

As conclusões deste novo estudo se somam a um trabalho recente realizado por cientistas do serviço meteorológico britânico (Met Office), da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA) e de centros de pesquisas de diversas universidades, que afirma que o aquecimento global tornou mais prováveis alguns dos eventos climáticos extremos do ano passado.

Batizado de “Explicando Eventos Extremos de 2011 a partir de uma Perspectiva Climática”, o trabalho acompanha o relatório anual “Estado do Clima 2011”, divulgado pelo NOAA.
Em seu artigo no Washington Post, Hansen afirma que ainda é possível evitar as piores consequências das mudanças climáticas, mas que estamos desperdiçando um tempo precioso.

“Podemos solucionar o desafio das mudanças climáticas com uma taxa crescente para o carbono sobre as empresas dos combustíveis fósseis, com 100% desses recursos sendo direcionados para residentes legais em uma base per capita. Isto estimularia inovações e criaria uma economia de energia limpa com milhões de novos empregos. É uma solução simples, honesta e efetiva. O futuro é agora. E é quente”, conclui Hansen.

Fonte: Instituto CarbonoBrasil

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

DOCUMENTÁRIO: CATADORA DE SONHOS.

(Brasil, 2012, 42 min. - Direção: Marcio Ramos)


O quanto de grandeza pode caber numa só pessoa?

No panorama social paulistano - onde impera a mentalidade higienista de políticos poderosos da cidade, onde sem-tetos, dependentes químicos e menores abandonados são tratados como escória social e varridos da cidade - iniciativas como a cooperativa de catadores de recicláveis da Granja Julieta, mostram como é possível dar aos excluídos uma vida digna e que a inserção social não é complicada, basta oportunidade.

Conheça Mara, presidente da cooperativa e suas grande lições de cidadania, tolerância, solidariedade, amor, num meio em que muitos chamam de lixo, mas que na verdade é essencial para muitas pessoas e para o meio-ambiente. 


“Quando a revolta é construtiva”...

sábado, 4 de agosto de 2012

OUTROS MODELOS SOCIOECONÔMICOS PRECISAM SER DEBATIDOS.


Diante das crises amibientais, sociais, climáticas e econômicas que a humanidade vem enfrentando, parece claro que é hora de começar a ouvir as propostas para um desenvolvimento diferente.



Em um mundo onde a taxa de extinção de espécies pode chegar a mil vezes o que seria natural, onde usamos 50 por cento mais recursos do que a Terra pode produzir de forma sustentável, onde 20% das pessoas consomem 85% dos recursos naturais, onde dois bilhões de seres humanos vivem com menos de US$ 2 por dia e 11% da população mundial não tem acesso à água potável, percebemos que há algo de errado. 


Assim, encarando todos esses dados, a grande certeza que parece permear cada nova conferência ou fórum internacional é a necessidade de alterar o sistema vigente que está exaurindo o planeta. Porém, quando tentamos encontrar uma solução para esta demanda, a resposta está longe de ser tão óbvia.


Os mais diversos setores da sociedade pedem por um novo paradigma, um que envolva maior equidade entre os diversos setores da sociedade e de gênero, redução no consumismo de bens desnecessários, produção baseada no uso cada vez menor de recursos naturais e que gere menos resíduos reaproveitando-os ao máximo, comércio justo, inclusão social, educação e saúde de qualidade...enfim, a lista de reivindicações é enorme.


“Mesmo utilizando novas tecnologias, dificilmente poderemos levar avante o projeto do crescimento sem limites. A Terra não aguenta mais e somos forçados a trocar de rumo”, comentou o teólogo Leonardo Boff.
Um planeta finito não suporta um projeto que pressupõe o uso infinito dos bens e serviços, critica Boff se referindo àqueles que propõem como saída para a crise atual um maior gasto público no pressuposto de que este produzirá crescimento econômico e maior consumo com os quais se pagarão mais à frente as astronômicas dívidas privadas e públicas.


Tim Jackson, autor do livro ‘Prosperidade sem crescimento’ defende que o crescimento econômico tem distribuído seus benefícios de maneira desigual, piorando a situação de boa parte da população mundial e favorecendo uma minoria. Ele se pergunta, “será que as economias mais ricas não poderiam aspirar a um tipo diferente de prosperidade - uma prosperidade sem crescimento?”


É difícil imaginar um mundo em que as taxas de crescimento não sejam mais os determinantes do quão bem vai a economia, porque estes conceitos estão muito profundamente arraigados em nossas mentes.
Porém, há séculos pensadores vêm alertando que, em algum momento, o capitalismo chegaria ao seu limite e cairia em crise.


Há aqueles que defendem a chamada 'economia verde' para revitalizar o capitalismo e torná-lo ambientalmente amigável ao invés do vilão da história, como tem sido visto.


O PNUMA coloca que a 'economia verde' resulta em melhoria do bem-estar humano e da igualdade social, enquanto reduz os riscos ambientais e a escassez ecológica. Mas, a maioria dos pensadores modernos, como Ignacy Sachs, alerta para que não se procure novas formas, mas sim novos conteúdos e é nesta linha que surgem debates profundos de mudanças estruturais em nossas formas de sobrevivência.


Grande parte dos movimentos sociais não acredita na ‘economia verde’ como um novo paradigma verdadeiro, socialmente inclusivo e ambientalmente sustentável.


Rede Brasileira pelo Decrescimento Sustentável, lançada durante a Cúpula dos Povos, propõe a superação da ideia que fora do sistema de crescimento não há saída, não sendo entendido como uma simples inversão do crescimento (o que no sistema atual seria sinônimo de recessão).


“É uma alternativa civilizatória ao desenvolvimento e tem como fundamento o viver bem dentro da nossa sociedade; é fundado, entre outros, sobre valores da equidade social e do cuidado ecológico”, explica a Rede. Neste sistema, o consumo seria mais equilibrado, com os mais ricos diminuindo e aos pobres melhorando a forma de consumir.


“Se investíssemos em transporte coletivo, saúde, educação, aumento dos meses de licença-maternidade, etc, talvez o PIB não aumentasse, mas teríamos mais emprego e nossa vida certamente melhoraria”, defende o grupo.


Criado na Europa na década de 1970 por pensadores como o filósofo austro-francês André Gorz, o Decrescimento não é focado em um único ponto, como o ambientalismo, mas é na verdade composto por uma diversidade de pautas discutidas ao redor do globo por ativistas e pesquisadores.


“Sua meta é uma sociedade em que se viverá melhor trabalhando e consumindo menos," comentou Serge Latouche, professor de economia da Universidade de Orsay (França) no Pequeno Tratado do Decrescimento Sereno.


"A sociedade do decrescimento é radicalmente diferente de um crescimento negativo. A primeira pode ser comparada com uma terapia austera, que é voluntariamente feita para melhorar o bem estar quando estamos ameaçados pela obesidade através do sobreconsumo. A segunda é uma dieta forçada, que pode levar à morte através da fome...O decrescimento apenas pode ser considerado em uma sociedade decrescimentista, ou seja, como parte de um sistema baseado em outra lógica", reafirmou Latouche. 


Levando a discussão para dentro do Congresso através do Senador Cristovam Buarque, João Luis Homem de Carvalho, da Universidade de Brasília e facilitador da Rede Brasileira pelo Decrescimento Sustentável, elencou quatro pontos sobre os quais a mudança poderia acontecer: carros, aclimatação, produção e distribuição de alimentos e a obsolescência dos produtos.


Um novo olhar sobre Marx


Outra iniciativa apresentada durante a Cúpula dos Povos, o chamado 'Movimento Sair do Capitalismo' , resultou de discussões realizadas durante o Fórum Transnacional da Emancipação Humana em agosto de 2010 em Fortaleza, e tem a ideia de transformar a relação social existente e construir uma sociedade pós capitalista, uma “saída para a vida plena de sentido, diz o seu manifesto.


O movimento baseia suas propostas nas análises de Marx sobre a crise dos limites do capitalismo, contida no 'Os Grundrisse', com anotações e estudos que Marx fez entre 1857 e 1858 trazendo várias indicações, muitas das quais não incluídas depois em O Capital, sua maior obra.


Segundo Rosa Fonseca, uma das coordenadoras do movimento, este se diferencia dos movimentos de esquerda que analisam a crise como mais uma do sistema que pode ser recuperado.


“O socialismo apenas modernizou o capitalismo, mas tem a mesma lógica”, comentou.


Além de defender um distanciamento dos fundamentos do capitalismo, o grupo também segue a linha do Decrescimento no sentido de combater o consumismo, “é preciso produzir bens necessários à vida”, enfatizou Fonseca.


"Todos os faróis estão no vermelho: é evidente que a corrida louca atrás do lucro, a lógica produtivista e mercantil da civilização capitalista/industrial nos leva a um desastre ecológico de proporções incalculáveis. Não se trata de ceder ao “catastrofismo” constatar que a dinâmica do “crescimento” infinito induzido pela expansão capitalista ameaça destruir os fundamentos naturais da vida humana no Planeta", enfatiza Michael Löwy, pensador brasileiro radicado na França e pesquisador do Centre National des Recherches Scientifiques (CNRS) em Paris. 


Neste sentido, explica Lowy, surgiu outro conceito, o do Eco-socialismo, que se fundamenta no marxismo, porém, afastando-o de suas bases produtivistas.


“Para os eco-socialistas a lógica do mercado e do lucro – assim como a do autoritarismo burocrático de ferro e do “socialismo real” – são incompatíveis com as exigências de preservação do meio ambiente natural...eles sabem que os trabalhadores e as suas organizações são uma força essencial para qualquer transformação radical do sistema e para o estabelecimento de uma nova sociedade”, complementa Lowy.


Assim como nos outros movimentos citados anteriormente, o eco-socialimo critica a racionalidade do mercado capitalista, que não leva em conta a temporalidade dos ciclos naturais.


 “Não se trata de opor os “maus” capitalistas ecocidas aos “bons” capitalistas verdes: é o próprio sistema, fundado na impiedosa competição, nas exigências da rentabilidade, na corrida atrás do lucro rápido, que é o destruidor dos equilíbrios naturais”, nota Lowy.


Ele explica que reformas parciais são insuficientes, que é preciso uma profunda reorientação tecnológica, a substituição das atuais fontes de energia por outras, não poluentes e renováveis e que não se trate apenas da “limitação” geral do consumismo, notadamente nos países capitalistas avançados, mas que se questione o tipo atual de consumo, ostentador e baseado  no desperdício.


 “Um socialismo ecológico, seria uma sociedade ecologicamente racional fundada no controle democrático, na igualdade social e na predominância do valor de uso”, explica Lowy sobre este movimento.


 As discussões para o alcance de uma sociedade ideal são indispensáveis para que a transformação possa acontecer e o ideal é que sejam fundadas nas contradições de fato existentes.


Os diversos movimentos sociais que ousam ir além do conformismo com a situação crítica que vivemos são elementares nesta busca, cujo objetivo parece convergir, ao menos conceitualmente.


A Cúpula dos Povos, assim como no Fórum Social Mundial, são fóruns excelentes de discussão, porém enquanto os movimentos continuarem a discutir apenas neste ambientes 'favoráveis' as idéias continuarão a ser vistas pela maioria da população, que não tem o privilégio de perceber as crises atuais, como uma utopia ou algo saído de 'radicais'.


Assim, fica a interrogação, como trilhar este caminho de transformação e de alguma forma 'traduzir'’ esta problemática para convergirmos não apenas em idéias de poucos, mas em ações de muitos.


Autor: Fernanda B. Müller   -   Fonte: Instituto CarbonoBrasil

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

O QUE PODE LEVAR A UMA CIDADE SUSTENTÁVEL?



Pois não é que, enquanto o eleitor se pergunta, aflito, em quem votar para resolver os dramáticos problemas das nossas insustentáveis grandes cidades, um pequeno país de 450 mil habitantes – a África Equatorial – anuncia (Estado, 10/6) que até 2025 terá construído uma nova capital “inteiramente sustentável”, de 40 mil casas para 140 mil habitantes, toda ela só com “energias renováveis”, principalmente a fotovoltaica? Mas como afastar as dúvidas do eleitor brasileiro que pergunta por que se vai eliminar uma “florestal equatorial” – tão útil nestes tempos de problemas climáticos – e substituí-la por áreas urbanas?

Bem ou mal, o tema das “cidades sustentáveis” entra na nossa pauta. Com Pernambuco, por exemplo, planejando todo um bairro exemplar em matéria de água, esgotos, lixo, energia, telecomunicações, em torno do estádio onde haverá jogos da Copa de 2014, inspirado em Yokohama (Valor, 24/6), conhecida como “a primeira cidade inteligente do Japão”. E até já se noticia (12/7) que o Brasil ocupa o quarto lugar no ranking de “construções sustentáveis” no mundo, depois de Estados Unidos, China e Emirados Árabes – já temos 52 certificadas e 474 “em busca do selo”, por gastarem 30% menos de energia, 50% menos de água (com reutilização), reduzirem e reciclarem resíduos, além de só utilizarem madeira certificada e empregarem aquecedores solares.

“As cidades também morrem”, afirma o professor da USP João Sette Whitaker Ferreira (Eco 21, junho de 2012), ressaltando que, enquanto há 50 anos se alardeava que “São Paulo não pode parar”, hoje se afirma que a cidade “não pode morrer” – mas tudo se faz para a “morte anunciada”, ao mesmo tempo que o modelo se reproduz pelo país todo. Abrem-se na capital paulista mais pistas para 800 novos automóveis por dia, quem depende de coletivos gasta quatro horas diárias nos deslocamentos, os bairros desfiguram-se, shoppings e condomínios fechados avançam nos poucos espaços ainda disponíveis, quatro milhões de pessoas moram em favelas na região metropolitana.

Não é um problema só brasileiro. Em 1800, 3% da população mundial vivia em cidades, hoje estamos perto de 500 cidades com mais de um milhão de pessoas cada uma, quase um bilhão vive em favelas. Aqui, com perto de 85% da população em áreas urbanas, 50,5 milhões, segundo o IBGE, vivem em moradias sem árvores no entorno (26/5), seis em dez residências estão em quarteirões sem bueiros, esgotos correm na porta das casas de 18,6 milhões de pessoas. Quase metade do solo da cidade de São Paulo está impermeabilizada, as variações de temperatura entre uma região e outra da cidade podem ser superiores a dez graus (26/3).

Estamos muito atrasados. Na Europa, 186 cidades proibiram o trânsito ou criaram áreas de restrição a veículos com alto teor de emissão (26/2), com destaque para a Alemanha. Ali, em um ano, o nível de poluição do ar baixou 12%. Londres, Estocolmo, Roma, Amsterdam seguem no mesmo rumo, criando limite de 50 microgramas de material particulado por metro cúbico de ar, obedecendo à proposta da Organização Mundial de Saúde. No Brasil o limite é três vezes maior.

E há novos problemas claros ou no horizonte, contra os quais já tomaram posição cidades como Pyongyang, que não permite a ocupação de espaços públicos urbanos por cartazes, grafites, propaganda na fachada de lojas, anúncios em néon (New Scientist, 19/5). É uma nova e imensa ameaça nos grandes centros urbanos, atopetados por informações gráficas e digitais projetadas. Quem as deterá? Com que armas, se as maiores fabricantes de equipamentos digitais lançam a cada dia novos geradores de “realidade ampliada”, a partir de fotos, vídeos e teatralizações projetados? O próprio interior das casas começa a ser tomado por telas gigantescas.

Um bom ponto de partida para discussões sobre as áreas urbanas e seus problemas pode ser o recém-editado livro Cidades Sustentáveis, Cidades Inteligentes (Brookman, 2012), em que o professor Carlos Leite (Universidade de São Paulo, Universidade Presbiteriana Mackenzie) e a professora Juliana Marques Awad argumentam que “a cidade sustentável é possível”, pode ser reinventada. Mas seria “ingênuo pensar que as inovações tecnológicas do Século 21 propiciarão maior inclusão social e cidades mais democráticas, por si sós”. A s cidades – que se tornaram “a maior pauta do planeta” – “terão de se reinventar”, quando nada porque já respondem por dois terços do consumo de energia e 75% da geração de resíduos e contribuem decisivamente para o processo de esgotamento de recursos hídricos, com um consumo médio insustentável de 200 litros diários por habitante. “Cidades sustentáveis são cidades compactas”, dizem os autores, que estudam vários casos, entre eles os de Montreal, Barcelona e São Francisco. E propõem vários caminhos, com intervenções que conduzam à regulação das cidades e à reestruturação produtiva, capazes de levar à sustentabilidade urbana.

Mas cabe repetir o que têm dito vários pensadores: é preciso mudar o olhar; nossas políticas urbanas se tornaram muito “grandes”, distantes dos problemas do cotidiano do cidadão comum; ao mesmo tempo, muito circunscritas, são incapazes de formular macropolíticas coordenadas que enfrentem os megaproblemas. No caso paulistano, por exemplo, é preciso ter uma política ampla e coordenadora das questões que abranjam toda a região metropolitana; mas é preciso descentralizar a execução e colocá-la sob a guarda das comunidades regionais/locais. Não custa lembrar que há alguns anos um grupo de professores da Universidade de São Paulo preparou um plano para a capital paulista que previa a formação de conselhos regionais e subprefeituras, com a participação e decisão de conselhos da comunidade até sobre o orçamento; mas as discussões na Câmara Municipal levaram a esquecer o macroplano e ficar só com a criação de novos cargos.

Por aí não se vai a lugar nenhum – a não ser a problemas mais dramáticos.

Autor: Washington Novaes*   -   Fonte: O Estado de S. Paulo

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

SER HUMANO: ESPÉCIE INVASORA??



O ser humano é fruto de uma longa evolução das espécies em meio à biodiversidade do Planeta. Isto não quer dizer que somos os animais maiores, mais fortes e mais rápidos da natureza. Ao contrário, o ser humano nasce de maneira bem débil e sem poder caminhar e procurar a sua própria comida. Em geral, o ser humano não pode nadar grandes distâncias e não pode voar. Também não possui em sua constituição física garras para se defender ou atacar e nem venenos para paralisar suas vítimas ou predadores. Não possui nem penas e nem pêlos para se proteger do frio. O ser humano é uma espécie bastante frágil.

Porém, esta espécie natural e biologicamente frágil desenvolveu uma arma poderosíssima que é o cérebro. O homo sapiens (homem sapiente) desenvolveu o raciocínio, a linguagem, a cultura e as civilizações. A inteligência humana também foi fruto de um longo processo de evolução que se aprimorou enfrentando as adversidades da natureza. Para superar suas fragilidades, o homo sapiens passou a construir ferramentas e se transformou em homo faber (homem fabricante). Uma coisa fortaleceu a outra, pois a inteligência permite construir ferramentas e utensílios e a construção destes aparelhos ampliou os limites da inteligência. O cérebro desenvolvido permite a resolução de problemas práticos e a postura ereta do homo erectus (bípede) possibilitara o uso dos braços para manipular objetos, especialmente com a capacidade prensil do polegar. Foi assim que o ser humano conquistou uma grande mobilidade espacial e social.

Primeiro, o ser humano aprendeu a usar a pedra lascada, depois a pedra polida, as lanças, o arco e flexa, as facas, etc. Aprendeu a controlar o fogo para cozinhar, gerar calor e luz. Depois juntou o fogo com o domínio da mineração para construir ferramentas e armas com os avanços da metalurgia. Inventou a roda e os meios de transporte. Criou o zero, o sistema decimal de números e o sistema binário (zeros e uns) que, hoje em dia, são a base da sociedade da informação. Aprendeu a plantar e a domesticar os animais para melhorar sua alimentação. Depois construiu cidades, fábricas, hospitais, escolas, carros, trens, aviões, navios, submarinos, etc. Com isto, o ser humano passou a andar, nadar e voar por todo o planeta e se tornou uma espécie onipresente na Terra. Hoje em dia, os homens e mulheres podem dizer: “está tudo dominado”.

Tudo começou há cerca de duzentos mil anos. Os estudos com o DNA mitocondrial de fósseis humanos mostram que a espécie teve origem na África oriental. A expansão e a migração do homo sapiens para fora do continente africano começou há cerca de cem mil anos.

A primeira diáspora bem sucedida aconteceu entre 90 mil e 85 mil anos, quando um grupo de homo sapiens atravessou o Mar Vermelho e seguiu em direção ao sul da Ásia. Entre 85 mil e 75 mil anos chegaram à Índia, Indonésia e ao sul da China. Entre 65 mil e 50 mil anos, um fluxo chegou à Austrália e outro ao Oriente Médio (até o Bósforo). Entre 50 e 45 mil anos, chegaram à Europa. Entre 45 e 40 mil anos, novos grupos de migrantes chegaram à Ásia Central, Tibet, interior da China, Córeia e Japão. De 40 a 25 mil anos, outros fluxos chegaram à Rússia, ao Circulo Polar Ártico, à Sibéria e ao estreito de Bering. De 25 a 22 mil anos um pequeno grupo chegou à América do Norte. Mas os rigores da Idade do Gelo restringiram a expansão humana. Entre 15 e 12 mil anos a diáspora que começou na África, se espalhou pela América do Norte e chegou à América Central e à América do Sul.

Com o fim da Idade do Gelo, entre 10 mil e 8 mil anos atrás, houve expansão da agricultura e o ser humano se espalhou pelo Globo, ocupando todos os continentes e todas as regiões do mundo. Estima-se que a população mundial passou de poucos milhares de indivíduos há 50 mil anos para 5 milhões de habitantes há 8 mil anos, cerca de 250 milhões de habitantes no ano 1 da era Cristã, algo em torno de 500 milhões no ano de 1500 (descobrimento do Brasil), 1 bilhão em torno do ano 1800 e 7 bilhões de habitantes em 2011. Estima-se que a soma de todas as pessoas nascidas desde o surgimento do homo sapiens chegue na casa de 110 bilhões de pessoas.

Diversos historiadores consideram que a migração humana foi um sucesso e que a humanidade criou uma grande civilização cheia de realizações e invenções geniais. Porém, existem outros historiadores que consideram que o ser humano, a despeito de ter realizado algumas obras geniais, tem causado muitos danos à natureza e ao Planeta. As migrações humanas desde a África trouxeram grandes destruições ambientais e a biodiversidade dos biomas foi alterada.

A natureza do continente americano sofreu muito com a chegada humana, especialmente após o crescimento do volume de pessoas. Por exemplo, as migrações humanas que chegaram à ilha de Páscoa (Rapa Nui), pertencentes atualmente ao Chile, acabaram por destruir a natureza local e a própria civilização da terra dos Moais. A civilização Nasca no Peru, além de fazer as famosas linhas de Nasca, contribuiram para a degradação ambiental ao cortar as árvores locais que resistiam à pouca precipitação pluviométrica.

Mas foi após a chegada de Cristóvão Colombo que os danos ao meio ambiente se intensificaram e a crise ambiental se agravou progressivamente. Em Galápagos, os equatorianos, durante mais de um século, mataram as tartarugas para fazer óleo e iluminar as cidades (como Guayaquil e Quito). Das diversas espécies de tartarugas, uma tem uma dramática extinção, pois só havia sobrado o “solitário George” (último exemplar daespécie), que morreu no mês passado. Além disto, houve a introdução de diversas espécies invasores de plantas e bichos que destruíram grande parte da riqueza natural do arquipélago. Em dimensão bem maior, os Estados Unidos da América (EUA) são campeões mundiais de destruição ambiental e estão afetando, não só o seu território, mas o clima do Planeta.

No Brasil, 93% da Mata Atlântica foi destruída a ferro e fogo. Outros biomas, como o Cerrado, os Pampas e a Amazônia estão indo pelo mesmo triste caminho. Os rios das grandes cidades foram destruídos ou simplesmente viraram canais de esgoto, como os rios Tietê, Carioca e Arrudas, respectivamente, em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Os exemplos do impacto negativo da população humana são muitos e dramáticos. A destruição do solo, das águas e do ar se espalha com grande velocidade, destruindo a riqueza biológica e as espécies nativas e endêmicas.

Por isto, alguns pensadores estão reavaliando o papel das migrações e até considerando o ser humano uma espécie invasora. As espécies invasoras são aquelas oriundas de outra região ou bioma, e que se adaptam e proliferam muito bem no novo ambiente, competindo com as espécies nativas por nutrientes, luz solar e espaço físico. Em geral, elas modificam o ecossistema original e reduzem a biodiversidade. Por falta de predadores naturais, as espécies invasores multiplicam sua presença como uma praga.

Por exemplo, o filósofo britânico John Gray, em entrevista à revista Época (29/05/2006), apresenta um prognóstico pessimista sobre a humanidade: “A espécie humana expandiu-se a tal ponto que ameaça a existência dos outros seres. Tornou-se uma praga que destrói e ameaça o equilíbrio do planeta. E a Terra reagiu. O processo de eliminação da humanidade já está em curso e, a meu ver, é inevitável. Vai se dar pela combinação do agravamento do efeito estufa com desastres climáticos e a escassez de recursos. A boa notícia é que, livre do homem, o planeta poderá se recuperar e seguir seu curso”.

O homo sapiens utilizou o cérebro para construir uma avançada civilização planetária, mas tem utilizado a sua inteligência de maneira instrumental e egoísta. O impacto humano já ultrapassou a capacidade de regeneração de todos os continentes. Não há mais fronteiras para novas migrações. Será que o homo sapiens que se espalhou pelo Planeta (chegando por último ao continente americano) pode ser classificado como uma espécie invasora? Ou haverá uma forma evitar seus efeitos daninhos?

Autor: José Eustáquio Diniz Alves   -   Fonte: EcoDebate