domingo, 30 de setembro de 2012

POLUIÇÃO CHEGA AO ÚLTIMO REFÚGIO MARINHO INTOCADO.



Presença no Oceano Antártico de 40 mil fragmentos plásticos por quilômetro quadrado, quantidade próxima da média global, revela que os impactos das atividades humanas estão indo além do que se pensava

A região oceânica do extremo sul do planeta sempre foi considerada um refúgio natural imaculado, já que suas águas não realizam muito intercâmbio com os principais e mais poluídos oceanos. Assim, foi com muita surpresa e decepção que pesquisadores ingleses e franceses constataram a presença massiva de  fragmentos plásticos próximos à Antártida.

“Não esperávamos encontrar uma quantidade tão alta de plásticos por aqui, até porque sempre consideramos esta área um ecossistema intocado e muito distante da sujeira da humanidade. O fato de termos localizado estes plásticos é um sinal de que o alcance dos seres humanos é verdadeiramente planetário”, afirmou Chris Bowler, coordenador do navio de pesquisas Tara.

O Tara, que já está viajando há mais de nove anos, possui a missão de cruzar todos os oceanos para investigar as consequências das mudanças climáticas nos ecossistemas marinhos e na biodiversidade. 

Em sua passagem pelo Oceano Antártico, a equipe coletou amostras de água que revelaram a presença de mais de 40 mil  fragmentos plásticos por quilometro quadrado. Este volume é muito próximo aos 46 mil da média global estimada pelo Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (PNUMA).

Apesar de a poluição oceânica já ser um problema reconhecido, imaginava-se que os níveis no  Oceano Antártico fossem pelo menos dez vezes menores do que a média global.

“Levando em conta as correntes oceânicas, acreditamos que esta poluição seja proveniente do hemisfério sul. Assim, existe a grande probabilidade de que os países da região, como Austrália, África do Sul e os latino-americanos, sejam os responsáveis”, disse Bowler.

Apesar de muitas vezes invisíveis ao olho nu, os fragmentos, resultantes da decomposição de sacolas plásticas, garrafas e embalagens, representam um grande problema para o ecossistema e para o próprio ser humano.

“Ao reagir com a luz ultravioleta dos raios do sol e com o sal da água, os químicos que compõem os plásticos, que são muitas vezes tóxicos, são liberados e se aglutinam ao plâncton. Assim, toda essa sujeira começa a fazer parte da cadeia alimentar. Os peixes vão absorvê-la e nós acabaremos por fazer o mesmo ao comermos os peixes”, explicou Bowler.

Problema Mundial

O lixo marinho constitui uma das piores catástrofes ambientais do planeta e se agrava a cada ano pela falta de programas globais, uma vez que praticamente todos os países acabam contribuindo para este desastre.

Segundo o relatório Panorama Ambiental Global 5 (GEO 5), publicado pelo PNUMA em junho deste ano, pouco ou nenhum avanço foi registrado na prevenção, redução ou controle da poluição do meio ambiente marinho nos últimos anos.

De acordo com a entidade, pelo menos 267 espécies marinhas em todo o mundo são afetadas pelo emaranhamento ou ingestão de lixo marinho, incluindo 86% de todas as espécies de tartarugas marinhas, 44% de todas as espécies de aves marinhas e 43% de todas as espécies de mamíferos marinhos.

Além disso, a ingestão dos resíduos plásticos pelos seres humanos pode levar ao câncer, a problemas reprodutivos e a outras doenças.

“Esta poluição vai seguir flutuando por milhares de anos. A melhor maneira para lidar com isso é evitar que a situação piore, investindo em tecnologias biodegradáveis e em políticas de consumo consciente”, concluiu Bowler.

 Fonte: Instituto CarbonoBrasil/Agências Internacionais

terça-feira, 25 de setembro de 2012

DOCUMENTÁRIO - RIO: BAÍA DE TODOS OS PERIGOS! (Triste Realidade)


Dias próximos da cerimônia de abertura da Rio + 20, ainda é perigoso no Brasil pessoas defenderem e fazer a proteção do meio ambiente.

Nos últimos quatro anos, 12 ativistas ambientais têm pago esse compromisso com suas próprias vidas.

As portas do Rio, Alexandre Anderson é o presidente de "AHOMAR", uma associação de pescadores na Baía de Guanabara, ele luta para preservar o espaço de pesca artesanal de milhares de famílias que tiram seu sustento nas águas do mar, que ainda existe para pescar.


A baía de guanabara nos atrás, era sublime em beleza natural e peixes, agora devastada pela poluição: todo o lixo de dragagens, a rápida industrialização por empreendimentos petrolíferos que acentua os desastres e derramamentos de petróleo.


Lixo, esgoto, metais pesados, manchas de óleo, a baía de guanabara, está morrendo. 


Alexandre diz: que ele não agrada industriais que colocam seus lucros à frente da preservação da natureza.


Ele foi ameaçado de morte várias vezes e agora vive sob proteção policial 24 horas.


Alexander vai nos levar ao encontro daqueles que ainda estão agindo antes que a baía de guanabara, se torne uma zona morta.


ASSISTA AO DOCUMENTÁRIO NO LINK:  http://www.youtube.com/watch?v=7IuZGN1Cqwk&feature=em-share_video_user 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

RESÍDUOS SÓLIDOS E SHOPPINGS CENTERS.



O Shopping do Méier no RJ inaugurado em 1963 foi o primeiro no Brasil, seguido pelo Shopping Iguatemi de SP em 1966. No entanto, há uma controvérsia sobre qual foi o primeiro com as características próprias destas organizações. Em 2010 existiam 766 shoppings centers em operação e mais 124 em construção no país. As regiões Sudeste e Sul são as que concentram mais empreendimentos, sendo os estados de São Paulo com 96, Rio de Janeiro com 78, Minas Gerais com 51 e Rio Grande do Sul com 49 os quatro primeiros. Nas capitais, São Paulo com 53, Rio de Janeiro com 31, Belo Horizonte com 20 e Porto Alegre com 15 são as principais sedes. No Distrito Federal existem 33 unidades, sendo 12 em Brasília. A organização que representa estes estabelecimentos é a Associação Brasileira de Shoppings Centers – Abrasce que informa a inauguração em 2011 de 22 unidades no país.

A ampliação constante dos shoppings no Brasil está relacionada com as comodidades de acesso a vários ramos de atividades concentrados em um mesmo local com amplos estacionamentos, áreas de lazer, alimentação e segurança para os consumidores. Esta concentração de atividades diversificadas e pessoas circulando gera resíduos com diversas origens: cargas e descargas, recebimento das mercadorias pelas lojas, administração, oficinas e manutenção, construções e reparos, substituição de equipamentos, embalagens de produtos de limpeza, estacionamentos, áreas de circulação, comercialização de produtos e serviços, áreas de alimentação. Quanto mais diversificadas as atividades, maior a heterogeneidade dos resíduos sólidos gerados. Quanto aos tipos de resíduos, também existe uma ampla variedade: plásticos diversos (PEAD, PEBD, PP, PS, PET, PVC, etc), papelões e papéis, resíduos orgânicos, metais, vidros, resíduos de construção civil, resíduos de limpezas, varrição, podas e capinas, embalagens e restos de tintas e solventes, equipamentos eletrônicos, pilhas, baterias, pneus, óleos lubrificantes e outros de acordo com as características específicas de cada empreendimento.

Com a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010 e Decreto 7.404/2010) os shoppings centers precisam adequar-se e adotarem o planejamento da gestão e gerenciamento dos seus resíduos através da elaboração de plano de gerenciamento de resíduos sólidos que possibilitem a redução, reutilização, reciclagem e destino final ambientalmente adequado, inclusive dos resíduos perigosos e/ou sujeitos aos processos de logística reversa. Para que os planos de resíduos sejam adequados e funcionais é indispensável que considerem além das especificidades próprias, a integração, capacitação e treinamento dos recursos humanos responsáveis. A identificação das atividades geradoras e da composição gravimétrica dos resíduos, assim como sua classificação em acordo com a NBR 10004/2004 (resíduos perigosos: Classe I; resíduos não perigosos: Classe II-A – não inertes; Classe II-B – inertes) é essencial ao planejamento adequado.

O diagnóstico e a identificação da composição gravimétrica dos resíduos gerados possibilita identificar-se quais as adaptações necessárias na infra estrutura para facilitar a disposição temporária, recolha interna, acondicionamento, armazenamento, coleta, transporte e destino final adequados. De modo geral são indispensáveis investimentos em mobiliários internos e externos, contêineres de vários tamanhos e usos, adequações espaciais, reformas dos cais de armazenamento, organização do transporte interno, câmaras frias, capacitação e treinamento de recursos humanos, assim como uma rigorosa análise da conformidade do destino final dos resíduos. Uma observação indispensável é que a maioria dos shoppings centers e supermercados não foram planejados com uma infra estrutura adequada para o gerenciamento eficiente dos resíduos sólidos produzidos, porque suas construções são anteriores aos instrumentos de gestão institucionalizados atualmente no país como a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, diversas normatizações da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, instruções normativas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA e resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA.

A composição gravimétrica também vai depender do tipo de shopping center analisado, já que existem diversas formas em que esta atividade se organiza: tradicionais, fabricantes, temáticos, rotativos, atacados, comunitários. A área ocupada também é outro fator que interfere, pois logicamente a produção é maior nos empreendimentos mais amplos, com maior número de atividades ou concentração de atividades específicas em grande escala. A caracterização é importante também para a avaliação das possibilidades econômicas e da instalação de uma central de triagem dos resíduos recicláveis que podem ser comercializados e desta forma contribuir para os recursos financeiros da administração. Outra alternativa é a formação de parcerias com associações ou cooperativas de trabalhadores com materiais recicláveis que efetuam o recolhimento periódico dos resíduos recicláveis armazenados. Os resíduos orgânicos podem ser encaminhados para compostagem em empresas ou associações que realizem esta atividade, assim como os óleos usados podem ser comercializados para a fabricação de combustíveis ou sabões.

A padronização do mobiliário é essencial e deve ser adequada às características do estabelecimento, principalmente nas áreas de circulação de consumidores e no interior das lojas. O treinamento dos funcionários e lojistas no início e no final da implantação dos planos de gerenciamento de resíduos é indispensável. É importante também a previsão de revisões periódicas para avaliações e adequações ou quando for realizada a implantação de novas atividades. Outra questão importante é o desenvolvimento de programas de educação ambiental e de informações claras aos consumidores, inclusive com a identificação dos diversos tipos de resíduos e seus recipientes respectivos de forma clara e objetiva, instalados em lugares visíveis e de fácil acesso.

Certamente, a adequação dos shoppings centers aos princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS e outros instrumentos legais relacionados com a gestão ambientalmente adequada dos resíduos de suas atividades é um investimento com retorno garantido, inclusive com a possibilidade de comercializar os materiais recicláveis e deste modo contribuir com a sustentabilidade financeira do empreendimento, impactando de modo positivo para a sustentabilidade ambiental e a organização dos espaços internos e externos adjacentes ao estabelecimento, incorporando diferenciais de mercado e de competitividade que podem atrair mais consumidores e fidelizar os que já freqüentam e consomem no local.

Autor: Antonio Silvio Hendges   -   Fonte: EcoDebate

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

ENERGIA NUCLEAR OU ENERGIA HIDRELÉTRICA?


Na véspera dos 25 anos do acidente radioativo em Goiânia, a energia nuclear está mais uma vez questionada. Mas a idéia de substituir esta energia perigosa com energias alternativas como hidrelétrica é lamentável e errada. A redução do consumo de energia é a solução e não a substituição por outro monstro!
 
Harrisburg, Chernobyl, Goiânia, Fukushima: O mundo já sabe há muito tempo que a energia nuclear é perigosa e poderosa demais para ser controlada pelos seres humanos civilizados. A energia nuclear cria todo dia resíduos que precisam ser cuidados e retirados de nossos ecossistemas do Planeta para muito mais de cem mil anos. E ninguém vai conseguir isso. As culturas ou as civilizações e as línguas normalmente desaparecem a cada mil anos, mas o lixo radioativo vai ficar perigoso, venenoso e radioativo para muito mais tempo.
 
O Césio-137 importado dos EUA que causou o acidente de Goiânia foi um lixo radioativo do processo de produção das bombas atômicas e do combustível das usinas nucleares. E quem conhece a poluição e a destruição dia a dia das dezenas de minas de urânio nas Américas ou na África, Ásia ou Austrália sabe que a energia nuclear não oferece um futuro saudável para os seres humanos.
 
Mas a geração da energia elétrica feita com milhões de toneladas de concreto que mudou os ecossistemas dos grandes e pequenos rios – eu estou falando sobre as hidrelétricas – também não é, nunca foi e nunca será uma fonte de energia aceitável ou ecologicamente correta.
 
A destruição feita pelas grandes barragens ou pelos complexos das pequenas barragens é imensa no mundo e também no Brasil. Vários rios do sul ao norte do Brasil já são destruídos por causa de barragens, Itaipú, Tucurui, Balbina, Sobradinho entre várias outras. Vamos destruir os últimos rios vivos e livres também junto com os povos e culturas que vivem em suas margens?
 
A questão “Angra 3”, “Angra 4”, “Angra 5” ou “Belo Monte” é simplesmente uma questão falsa. A questão real e ecologicamente correta e importante é: Viver bem com menos energia!
 
É fundamental que todos os países, e especialmente os países que possuem indústria de automóvel, indústria química, siderúrgicas imensas e uma agricultura altamente mecanizada como Brasil, China, Argentina, Canadá ou EUA, precisam questionar o seu consumo de energia. A questão não é substituir uma forma de energia por outra. A questão é reduzir o gasto de energia. Isto é a obrigação da nossa geração.
 
Por exemplo, a produção de carne (frango, porco ou boi) no sistema intensivo com estábulos imensos climatizados e com ração à base de soja e milho é um grande consumidor de energia, extremamente contra a ecologia e contra o bom senso da vida. Este sistema de produção intensivo de carne, de ovos ou de leite é um castigo para os animais e o meio ambiente e precisa de muita eletricidade e combustíveis.
 
E depois gastamos ainda mais energia para o transporte do norte ao sul do país ou para exportação para Europa ou Ásia: produção e manutenção de estradas, portos e caminhões, gastos de gasolina e diesel, gastos para manter uma rede de refrigeração dos frigoríficos,… E no final o consumidor ganha um produto ruim e não saudável. Há muito tempo é provado que estes produtos da agricultura industrial e da produção intensiva estragam a saúde humana e tem menos gosto.
 
Por exemplo: A gordura dos suínos ou ovos “modernos” contem menos ômega 3 e mais ômega 6, simplesmente porque a ração de soja e milho naturalmente quase não contém ômega 3, só muito ômega 6. Na produção tradicional e extensiva, sem gastos de energia, os produtos dos animais são mais saudáveis, porque eles comem grama e insetos que naturalmente estão ricos em ômega 3. O peixe do mar – que ainda não come ração – é hoje sinônimo de alimento saudável, porque ele contém muito ômega 3.
 
Você é o que você come!
 
O que o Brasil, e a América Latina, precisa urgentemente é um novo PAC. Um PAC de bom gosto e de bom senso! Produção local para mercado local. Produção sem agrotóxicos e com o menor uso de máquinas possíveis. Isto gera mais emprego e mais produtos saudáveis e saborosos para sempre e para todos! E não vai expulsar ninguém de seu rio!



 Autor: Norbert Suchanek   -   Fonte: Ecodebate


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

POLÍCIA FEDERAL ACUSA PETROBRÁS DE POLUIR O OCEANO.


Investigação descobre que a empresa despeja no mar, sem tratamento, resíduos tóxicos – dejetos da exploração do petróleo.


Na tarde de 30 de agosto de 2011, três botes da Polícia Federal (PF) deixaram a Marina da Glória, no Rio de Janeiro, rumo à Refinaria de Duque de Caxias, a Reduc, a quarta maior daPetrobras. Os botes singravam as águas do Rio Iguaçu quando, súbito, depararam com boias laranja impedindo a passagem. A água escurecida reluzia óleo. O rio estava tomado por uma língua negra de poluição, que se espalhava pela Baía de Guanabara – perto dali, ela tinha profundidade de 2 palmos. “Parece uma privada!”, disse um agente da PF. Os policiais retiraram as boias, esperaram a maré subir e chegaram às margens da Reduc, onde funcionários aguardavam-nos. A PF, comandada pelo delegado Fábio Scliar, chefe da Divisão de Crimes Ambientais no Rio de Janeiro, investigava por que a Petrobras descartava poluentes diretamente nas águas do Iguaçu e na vegetação da área. Era o início de um processo criminal que culminou, há dois meses, no indiciamento de dois gerentes da Petrobras por crime de poluição – e na descoberta, segundo a PF e o Ministério Público Federal, da negligência da Petrobras ao descartar o principal subproduto poluente da extração do petróleo, a “água negra”.
A blitz na Petrobras começara às 7 horas daquele dia, quando peritos do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), órgão subordinado ao governo do Rio, sobrevoaram de helicóptero a Reduc e constataram a mancha de óleo. Três horas depois, os peritos visitaram a refinaria. Percorreram, acompanhados de funcionários da Petrobras, as margens do rio. Perto de um dos pontos onde eles haviam avistado as manchas de óleo, uma placa dizia: “Interditada”. Os gerentes da Petrobras insistiram que os fiscais não atravessassem a área, embora não explicassem por quê. Os fiscais foram assim mesmo. Encontraram uma operação de emergência da Petrobras, montada para retirar a poluição do local – e, segundo o MP, encobrir o crime. Havia caminhões de sucção de óleo, barreiras, funcionários correndo para lá e para cá. “Presenciamos as tentativas, a todo o custo, de conter a grande quantidade de óleo ainda retido ali”, escreveram os peritos. “Os funcionários que nos atenderam negaram até a derradeira descoberta do vazamento.”
Nas águas que margeiam a Reduc, na vegetação contígua e no manguezal que (ainda) existe no terreno da refinaria, os fiscais descobriram grandes quantidades de óleo. Parte já estava havia tanto tempo no local que apresentava a aparência de “chocolate cupcake”, apelido desse detrito – as fotos mostram que o manguezal de 353 hectares parecia um bolo mofado. Óleo novinho, misturado a dezenas de poluentes, era lançado ao rio durante a vistoria dos fiscais. Vazava dos dutos da estação de tratamento de detritos. Em vez de limpar, a estação sujava. Como escreveram os investigadores, “parecia um filme de terror”.
As substâncias coletadas pelos fiscais mostraram-se altamente tóxicas. Havia níveis de óleo, graxas e fenóis “muito acima” dos limites legais. A origem dos detritos era o petróleo da refinaria. Como resultado, o Inea multou a Petrobras em R$ 3,3 milhões. Depois, fechou acordo com a empresa. A Petrobras prometeu construir uma nova estação de tratamento na Reduc – até 2017. Prevê-se, nas palavras da Petrobras, um “investimento conceitual” de R$ 1 bilhão para modernizar a limpeza de poluentes como a água negra. Em 7 de novembro do ano passado, após o acordo, os fiscais voltaram à Reduc. Coletaram novamente a água negra despejada no Rio Iguaçu. Verificaram que havia toda sorte de poluente, a maioria acima dos limites legais, um com nome mais apavorante que outro: óleos, graxas, sólidos sedimentáveis, fenóis, nitrogênio amoniacal. Emitiram um novo alerta à Petrobras.

Ao ouvir os responsáveis pela poluição na Reduc, o delegado Scliar foi informado de que havia um desastre ambiental em curso: o descarte da água de produção nas plataformas de petróleo. A água de produção, ou água negra, é um subproduto da prospecção de petróleo. O produto final é, basicamente, água do mar misturada com óleo, graxa e várias substâncias tóxicas. A lista das substâncias parece uma viagem à tabela periódica. Estão lá metais como bário, berílio, cádmio, cobre, ferro, além de elementos radioativos. Ao cair no mar sem tratamento, é um perigo para a vida aquática. A denúncia que chegou a Scliar afirmava que a Petrobras não tratava a água negra, nas plataformas ou em terra, como manda a lei (leia o quadro abaixo). Scliar e sua equipe passaram a rastrear o destino da água negra. Nas plataformas, seria impossível fiscalizar. Mas, como a Petrobras afirma enviar 1% dela a terminais em terra, ele passou a ouvir os encarregados de tratá-la. No Rio, a primeira escala da água negra em terra são os terminais de Ilha Grande e de Cabiúnas.
No papel, uma das funções dos terminais de Ilha Grande e de Cabiúnas é “retirar o máximo possível” da água negra que lá chega misturada ao petróleo extraído das plataformas. Desses dois terminais, o óleo segue para as refinarias. Quanto mais puro chegar a elas, menor o custo de produção da Petrobras – e, potencialmente, maior o lucro. Como elas armazenam petróleo e água negra nos mesmos tanques, a água negra apenas ocupa o espaço que deveria ser do petróleo. Portanto, quanto mais água negra misturada aos tanques, menor a capacidade de produção da refinaria. De modo que empresas como a Petrobras têm todo o incentivo para se livrar dela sem o devido cuidado.
A mesma lógica aplica-se à exploração de petróleo em outras costas. Nos Estados Unidos e na Austrália, os limites para o descarte de água negra são similares aos do Brasil. Mas lá, ao contrário do que ocorre aqui, há fiscalização. Na Noruega, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, a conversa é diferente: persegue-se a meta de “poluição zero” no descarte de água negra – meta já cumprida nas plataformas mais modernas, que dispõem de tecnologia para limpar e reaproveitar poluentes. A Inglaterra adotou a mesma filosofia.
Na prática, de acordo com os depoimentos dos funcionários da Petrobras, nada é tratado nos terminais de Cabiúnas e de Ilha Grande. O gerente de Cabiúnas, Paulo Nolasco Barreto, disse ao delegado Scliar que o terminal “não possui estação de tratamento de efluentes”. Há uma estação antiga e desativada, segundo ele, “inoperante há cerca de seis ou sete anos”. O gerente do terminal de Ilha Grande, Virmar Muzitano, contou a mesma coisa a Scliar: o Terminal de Ilha Grande também não trata a água negra. Até existia uma estação em Ilha Grande, como em Cabiúnas, mas, de acordo com Muzitano, ela foi desativada por “ter ficado obsoleta”. Ambos afirmaram que a Petrobras “planeja” construir novas estações. “Se existia estação de tratamento nesses terminais, é porque há alguma coisa a tratar. Por que deixaram chegar a esse ponto?”, diz Scliar. Ninguém na Petrobras soube responder a ele. Flávio Santos de Araújo, gerente executivo da Petrobras na área de meio ambiente, disse em depoimento não saber que as estações de tratamento de dois dos principais terminais da Petrobras estão desativadas: “São tantas as unidades da Petrobras no âmbito (dele) que não há como conhecer essas informações”.
O petróleo e a água negra desses terminais seguem para a Reduc. Em abril deste ano, o gerente da Reduc, Antônio César Aragão Paiva, admitiu à PF que a estação da refinaria não trata a água negra que lá chega. Dias depois, outra gerente da Petrobras, Carla Gamboa, confirmou que não há tratamento algum na Reduc. “A estação de tratamento de efluentes tem limitações por ter ficado obsoleta”, disse Carla ao delegado Scliar. Ela não soube dizer há quanto tempo a estação funciona, ou deixa de funcionar. Podem ser “30, 40 ou 50 anos”. Carla contou, porém, que a Petrobras planeja, desde 2007, investir em reformas para melhorar a limpeza dos poluentes. “Os processos dentro da Petrobras são lentos (…) realmente complicados, tanto do ponto de vista técnico quanto do ponto de vista burocrático”, disse. Como os dois gerentes são os responsáveis, dentro da Petrobras, pelo descarte de poluentes na Reduc, ambos foram indiciados por crime de poluição. Se forem condenados, podem cumprir de um a cinco anos de prisão.
Da Reduc, a água negra segue para o Terminal de Ilha D’Água. Dias depois dos depoimentos dos funcionários da Reduc, o engenheiro da Petrobras Rafael Feldman, gerente do Terminal de Ilha D’Água, depôs. Confirmou que o terminal recebe a água negra e que o poluente é bombeado para os tanques de cargas dos navios. O destino? Alto-mar – o que é ilegal. Ao todo, a quantidade de água negra devolvida ao mar no ano passado foi de 546.000 metros cúbicos, o suficiente para encher 218 piscinas olímpicas. A própria Petrobras reconhece isso num relatório a que ÉPOCA teve acesso. Nele, sugere-se a construção de um emissário no Terminal de Ilha Grande, para tratar água negra em terra e descartá-la no mar. “Não há respaldo legal na atual legislação ambiental que permita o descarte de água de formação, mesmo que após tratamento, em áreas oceânicas afastadas da costa, através de navios”, escrevem os técnicos da Petrobras. É assim que a Petrobras descarta hoje grande parte de sua água negra.
No curso da investigação, Scliar descobriu que isso acontece, em parte, porque não há fiscalização. A Agência Nacional do Petróleo (ANP), afirmou, em ofício à PF, que não tem nada a ver com o assunto. “Água salina não é objeto de regulação desta agência”, diz a ANP. Há quatro meses, o Ibama informou que também não tem muito o que fazer. Em depoimento a Scliar, o fiscal do Ibama Carlos Magno de Abreu – responsável no governo por inspecionar a poluição da Petrobras – disse que o Ibama tem somente 20 funcionários para fiscalizar todas as plataformas do Brasil. Disse também que eles não têm acesso à água negra despejada pela Petrobras no mar – e, se tivessem acesso, não têm instrumentos para avaliar com precisão os poluidores. Carlos Magno contou que, até 2007, não havia nenhuma fiscalização. Hoje, a Petrobras contrata laboratórios para fazer esse serviço. Eles medem apenas os índices de óleo e graxa (deixam de lado outros poluentes, como bário e cádmio), e a Petrobras manda cópia dos relatórios ao Ibama. Silvana Medeiros, outra funcionária do Ibama, reconheceu que o governo não fiscaliza a Petrobras, embora conceda licenças ambientais para suas operações. Disse que o Ibama “atua apenas nos casos emergenciais de derramamento de petróleo”. “Isso é muito grave”, diz Scliar. “O Ibama não tem condições de fiscalizar: não tem helicóptero, não tem peritos, nada. Então a Petrobras paga a alguém para fiscalizá-la? Como garantir que esse trabalho seja feito com a lisura necessária?”
A legislação a respeito do descarte de poluentes foi formulada sob influência fortíssima da Petrobras. Os regulamentos são estabelecidos pelo governo, num órgão chamado Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Ele se compõe de representantes de cinco setores: órgãos federais, estaduais e municipais, empresários e sociedade civil. É presidido pelo ministro do Meio Ambiente. ÉPOCA teve acesso às atas das reuniões do Conama que, em 2005 e em 2006, levaram à mudança na lei que regula o descarte de água negra. Até aquele ano, limitava-se a 20 miligramas por litro o nível médio de óleo e graxas presentes na água negra despejada no mar. “A tendência mundial é a busca do descarte zero”, disse um técnico do Ibama. A Petrobras sugeriu 30 miligramas por litro. A ANP, em seguida, propôs 29. Parecia um leilão. O representante da Petrobras, o engenheiro Luiz Molle Júnior, afirmou: “Sei que posso estar colocando minha cabeça na degola porque estou declarando, alto e bom som, e ficará registrado, que praticamos valores acima de 20 (...) Quando o volume de água produzida aumenta muito, a gente vai chegar a ter muita dificuldade para atingir os 20”. Ao final das reuniões, o limite ficou em 29. Em julho de 2007, a nova resolução foi assinada pela então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Há dois meses, o delegado Scliar enviou seu relatório final sobre o caso ao MP. “Poucas plataformas da Petrobras possuem estações de tratamento”, diz o relatório. “Os terminais para onde é enviada a água de produção não possuem estações de tratamento. As refinarias não tratam a água de produção, e a enviam para embarque em navios, onde, sem tratamento algum, serão despejados em alto-mar.” Renato Machado, o procurador da República que recebeu o inquérito, disse a ÉPOCA que apresentará denúncia criminal. E que encaminhará os achados à Procuradoria-Geral da República, que deverá pedir investigações em todos os Estados com plataformas em sua costa.
Indagada sobre as investigações da PF e do MP, a Petrobras afirmou em nota que “o tratamento de água produzida nas plataformas de produção da Petrobras segue o padrão de descarte estabelecido pela Resolução Conama 393, semelhante aos padrões dos Estados Unidos e da Europa. As plataformas que realizam descarte de água produzida o fazem com aprovação do Ibama em processo de licenciamento ambiental, obedecendo ao parâmetro estabelecido pela Resolução Conama (...) A Refinaria Duque de Caxias não lança água de produção no rio Iguaçu. A Petrobras, como outras empresas operadoras de plataformas, coleta amostras diariamente e as análises seguem fielmente a legislação vigente. Também informa anualmente através de relatórios os resultados de monitoramentos realizados e metodologias adotadas em cumprimento à Resolução do Conama 393. O Ibama dispõe de todos os relatórios”. A nota diz ainda: “Todas as discussões que houve por ocasião da elaboração da Resolução Conama 393 foram públicas, assim como públicas e legítimas foram as propostas de parte a parte, como é de praxe em todos os processos de construção de ideias ou regulamentos”.
FONTE: Revista Época

sábado, 8 de setembro de 2012

AQUECIMENTO GLOBAL ESTÁ PERTO DE SE TORNAR IRREVERSÍVEL, DIZEM CIENTISTAS.



Derretimento da cobertura de gelo e perda de floresta são críticos. Reunidos em Londres, pesquisadores pediram ações urgentes.

O mundo está perto de atingir um estado crítico que vai torná-lo irreversivelmente mais quente, tornando esta década crítica nos esforços para conter o aquecimento global, alertaram cientistas na segunda-feira (26 de agosto).
Reunidos em Londres, na Inglaterra, para a conferência "Planeta sob pressão", que se encerrou na quinta-feira (29 de agosto), pesquisadores afirmaram que mesmo com diferentes estimativas, as temperaturas do mundo parecem caminhar no sentido de um aumento de 6ºC até 2100, caso a emissão de gases do efeito estufa aumente sem controle.
Com o crescimento das emissões, especialistas dizem que o mundo está perto de atingir limites que vão tornar os efeitos do aquecimento global irreversíveis, como o derretimento da cobertura de gelo polar e perda de floresta.
"Esta é a década crítica. Se nós não invertermos a curva nesta década nós vamos ultrapassar estes limites", disse Will Steffen, diretor executivo do instituto de mudança climática da Universidade Nacional da Austrália.
Apesar deste senso de urgência, um novo tratado global sobre mudança climática que obrigue os maiores poluidores mundiais, como os Estados Unidos e a China, a cortar emissões só será acordado em 2015 - para entrar em vigor em 2020.
Momento limite
Para a cobertura de gelo - enormes refrigeradores que retardam o aquecimento do planeta - o ponto limite já foi ultrapassado, afirmou Steffen. A cobertura de gelo do oeste da Antártica já encolheu ao longo da última década e a cobertura da Groenlândia perdeu em torno de 200 km³ por ano, desde 1990.
A maioria das estimativas climáticas concorda que a floresta amazônica vai se tornar mais seca conforme o planeta esquente. Mortes de grandes porções de floresta provocadas pela seca têm aumentado temores de que estamos prestes a viver um ponto limite, quando a vegetação vai parar de absorver emissões e começar a liberar gases na atmosfera.
Nos piores cenários, entre 30 a 63 bilhões de toneladas de carbono podem ser liberadas por ano a partir de 2040, aumentando para até 380 bilhões até 2100. Como comparação, a quantidade de CO2 liberada por combustíveis fósseis anualmente é de 10 bilhões de toneladas.
O aumento do CO2 na atmosfera também tornou os oceanos mais ácidos conforme eles absorvem os gases. Nos últimos 200 anos, a acidificação dos oceanos ocorreu em uma velocidade não vista em 60 milhões de anos, disse Carol Turley do Laboratório Marinho de Plymouth.
Fonte: G1

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

PÓS RIO+20 - UMA ANÁLISE CRÍTICA DA ECONOMIA VERDE E DA NATUREZA JURÍDICA DOS CRÉDITOS AMBIENTAIS.


Tudo que é financeiro, lamentavelmente, é econômico. Mas nem tudo que é econômico é financeiro!


Desde que foi instituído o MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, pelo Protocolo de Quioto (1997), estamos manifestando nossas preocupações com a maneira pela qual os negócios e os acordos vinham sendo conduzidos. A tendência que temos observado é, infelizmente, que o mercado de carbono e seus derivados está repetindo os modelos centralizadores, arriscados, limitados e desgastados, sob os quais se  estabeleceram os contratos nos grandes centros financeiros. Analistas internacionais estimam um rombo de aproximadamente U$ 222 trilhões nos derivativos, o que equivale a três vezes o PIB mundial. A crise financeira internacional não acontece em outro planeta para que a euforia em relação aos créditos ambientais seja isenta de críticas e rechaços, como ocorreu durante a Rio+20 no evento paralelo Cúpula dos Povos.

É aqui mesmo, neste mercado global desregulamentado, que estão sendo negociados acordos entre governos e instituições financeiras com o aval de algumas ONGs ambientalistas, contrariando a lógica matemática mais racionalista e, tais créditos, sendo tratados como commodities, ou seja, mercadoria padronizada para compra e venda. A poluição é uma nova modalidade de mercadoria. Assim como a máfia do lixo, dos aterros sanitários, do lixo tóxico e do lixo atômico, estão fazendo do que deveria ser eliminado um “ativo ambiental”.

Os argumentos que justificam o mercado de carbono são louváveis. O apelo para conter o aquecimento global é legítimo. As mudanças climáticas ocasionadas pela ação do ser humano estão mais que comprovadas cientificamente, ainda que alguns céticos se esforcem para derrubar teses e estudos consolidados. Porém, o modus operandi a que se pretende alcançar esses objetivos são questionáveis até para os mais monetaristas dos cientistas econômicos.

Os números apontados são discrepantes: estima-se que U$ 142 bilhões foram negociados nos derivativos de carbono, contra U$ 5 bilhões investidos diretamente em projetos de MDL. O que se verifica é que, de fato, há um mercado sem controle, formando uma bolha ambiental prestes a explodir, uma vez que o sistema financeiro mundial está totalmente entrelaçado por garantias que os bancos trocam entre os próprios bancos, as chamadas “trocas de chumbo”. Há um movimento internacional atento, monitorando e denunciando fraudes e corrupções nesses mecanismos.

No sistema financeiro, não existe operação que não tenha garantia real. Não se pode formar um fundo climático sem que haja garantias de liquidez. Usarão todos os papéis que encontrarem pela frente para lastrear seus negócios de altíssimo risco no curtíssimo prazo.

É nesse contexto, que está o cerne da polêmica em relação à “economia verde”. Resumindo, a crítica é procedente, pois se estrutura na crença que o mercado financeiro é soberano e tem capacidade para regular e promover ajustes com as forças do livre mercado, precificando a natureza e, com isso, estabelecendo prazos contratuais, ao gosto do freguês, sem metas e sem regras, opondo-se, assim, à política “comando controle” dos Estados.

Não foi por acaso que o documento final da Rio+20 desconsiderou os princípios acordados na Rio-92: o princípio do poluidor-pagador, o princípio da precaução e o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas.

Dessa forma, promove-se a via mais rápida para a financeirização dos bens ambientais, como água, biodiversidade, florestas (fauna, flora e patrimônio genético) e minério, com a conivência e aval dos governos, que transferem suas responsabilidades enquanto Estado para as corporações através do sistema financeiro nos modelos neoliberais mais agressivos dos últimos tempos. No entanto, para que isso aconteça, é necessário desmantelar leis ambientais, afrouxar a fiscalização, flexibilizar regras e engessar os movimentos sociais e ambientais.

Se um país não tem terra e água para plantar, compra (ou rouba) terras em outro continente. Esse movimento especulativo atrai todo tipo de negócios escusos. As terras mais cobiçadas são os territórios das populações tradicionais, caiçaras, indígenas e quilombolas. Os pequenos proprietários de terras, com mananciais, águas subterrâneas e represas e rios em suas propriedades, também são alvos dos especuladores, que prometem vantagens financeiras agindo com cartas de gaveta (side letters) de compra e venda de áreas vinculantes aos créditos de carbono e de compensações, usando, portanto, as áreas como garantias reais para negociar os tais títulos.

Esse movimento já ocorre na informalidade há 15 (quinze anos), à revelia dos órgãos normatizadores e fiscalizadores, colocando em risco a soberania nacional por conta de conflitos fundiários e rurais, entre outros fatores territoriais. O mais alarmante é a velha troca de votos por água. É delicada e preocupante a fragilidade das populações que não têm acesso à água, em quantidade e qualidade, e ao saneamento básico. Estas são reféns, há séculos, do voto de cabresto.

Agora, temos uma novidade eleitoral sofisticada: o voto de cabresto do REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação), e suas criativas variáveis, com a correria de diversos governadores e prefeitos assinando acordos com empresas estrangeiras. Resta saber quais são as bases jurídicas nas quais estão fundamentados todos esses acordos para que instituições financeiras internacionais administrem os bens ambientais desta nação. Outro caso interessante envolve ONGs, marketiando como se fossem instituições financeiras autorizadas a “funcionar” pelo Banco Central do Brasil. As ONGs anunciam produtos, sistemas de comercialização, cadastramento de clientes e negócios sob a lei das OSCs e OSCIPs. Isso pode?

Será que o mercado dos ativos ambientais, cuja natureza jurídica é incerta e extremamente confusa - quando camaleônicamente os players os tratam como commodities trocando, ao sabor dos ventos, para valores mobiliários (valores ambientais) ou para ativos ambientais e sabe-se lá que nome darão aos mesmos bois -, está isento de regras, normas, não se submete ao Código de Defesa do Consumidor, não será processado por prática de propaganda enganosa, entre outras arbitrariedades, abusando da falta de conhecimento técnico da população desavisada? São essas as perguntas que faremos aos futuros candidatos e aos seus partidos nas próximas eleições. Enquanto isso, quem viver o Pós-Rio+20 verá!

 Autor: Amyra El Khalili

sábado, 1 de setembro de 2012

O DEBATE QUE FALTA SOBRE O CÓDIGO FLORESTAL.



No debate sobre o novo Código Florestal, os dilemas sobre que Brasil o mundo precisa e o que estamos dispostos a construir como nação numa perspectiva de sustentabilidade e justiça social, com democracia, ficam em segundo plano. O debate está restrito aos limites dados pelo agronegócio, entre o que seus promotores acham aceitável para continuar se expandindo e o que a sociedade é capaz de suportar, sem nada mudar no rumo já traçado. Na verdade, como questão pública e política, a mudança legal do Código Florestal é determinada por uma velha agenda desenvolvimentista, hegemonizada pelos grandes interesses e forças econômicas envolvidas na cadeia agroindustrial, um dos pilares do Brasil potência emergente. Tudo que se fará não será no sentido de uma mudança de rumo, mas de flexibilização de regras e condutas para continuar destruindo.

Por que? Por que a destruição ambiental não figura como questão neste debate? Por que é tão difícil discutir nossa responsabilidade no uso do imenso patrimônio natural que herdamos como país? Afinal, a biodiversidade – e floresta é um grande celeiro de biodiversidade – é um dos bens comuns mais centrais para a existência da vida, da humanidade. Os sistemas naturais de reprodução de todas as formas de vida no planeta Terra passam pela biodiversidade das florestas. O ciclo da água, este bem comum sem o qual nenhuma vida existe, depende das florestas. Floresta é vida!

Estamos contaminados por um ideal de desenvolvimento industrial produtivista voltado à acumulação, ao lucro, não à produção de bem estar e felicidade. Tudo é feito para crescer, crescer sempre e sem limites, quanto mais rápido melhor. Crescem os negócios, gera-se riqueza que destrói e exclui, o luxo e o lixo. Quanto mais crescemos, mais destruímos, criamos mais lixo do que bens. Socialmente, a lógica deste sistema não é satisfazer necessidades humanas, mas criar um tipo de riqueza ditada pela acumulação, causa da pobreza ao mesmo tempo.

De forma desigual acumulamos, mesmo que na rabeira todos estejamos contaminados pelo ideal de acessar a mais bens. Não nos interrogamos do sentido de tais bens materiais, que são feitos para ter vida curta e precisam ser substituídos logo mais, tudo para que a produção e as vendas continuem a crescer e os capitais investidos continuem acumulando. No final da linha, muita destruição e injustiça social.

No centro de tudo, a relação desta economia com os sistemas naturais. Para viver, é evidente que precisamos extrair da natureza os meios que nos mantêm vivos. Mas, como o fazemos? Podemos simplesmente extrair sem limites, sem preocupação com a integridade dos sistemas naturais, nosso bem comum maior, com o qual interagimos? Existe sustentabilidade da vida humana sem sustentabilidade dos sistemas naturais?

O modelo industrial produtivista, que está no centro do agronegócio, não se move pela sustentabilidade da vida, de toda vida, destas e de futuras gerações. O critério é a acumulação, não a vida ou a preservação dos bens comuns. Seu motor é a conquista e dominação, herança deixada pela colonização. Hoje, continuamos a empreitada da colonização, conquistando terras, subjugando e expulsando os que vivem nelas, destruindo as suas florestas. Enquanto houver terras para conquistar, o colonialismo interno vai nos empurrar no caminho da destruição de matas e rios, não respeitando outros modos de organização e vida. Neste modelo de colonização das florestas, não importa que para plantar mil hectares de soja seja preciso destruir uma floresta de 1 mil hectares, mesmo se para a soja sejam necessários toneladas de agrotóxicos para protegê-la da biodiversidade teimosa do lugar, vista como “ervas daninhas”.

É neste quadro que o debate do Código Florestal deveria ser feito. Além disto, deveríamos levar em conta que decisões sobre o uso de florestas do Brasil afetam o equilíbrio ambiental do planeta inteiro e comprometem a vida de futuras gerações, a começar pelos nossos netos e seus filhos. No entanto, estamos vendo o imediato, o tamanho de nossa agricultura, suas exportações e as divisas que geram ao país. Decididamente, estamos comprometendo o nosso futuro e o do planeta junto.

Falta-nos muita grandeza neste debate. Não pensamos que o caminho para o futuro passa por recriar bases de sustentabilidade da vida. Preservar e recuperar as nossas florestas é uma condição indispensável neste sentido. Mas parece que não optamos pelas florestas e pela vida. Optamos pelo caminho mais curto de crescimento, que tem como pressuposto o velho modelo primário exportador, que nos torna dependentes de potências industriais e grandes destruidores ambientais.

Não é este o Brasil emergente que o mundo precisa e que quem luta por democracia e justiça social quer. O drama é que nossa política e, com ela, nossos sonhos e desejos coletivos estão aprisionados pelo corporativismo do agronegócio. O velho latifúndio comanda no Congresso Nacional, na casa que deveria representar o Brasil em sua diversidade e complexidade. Só mais democracia pode nos levar a superar este dilema.

 Autor: Cândido Grzybowski   -   Fonte: Carta Maior