terça-feira, 10 de julho de 2012

DOCUMENTÁRIO: A CARNE É FRACA.



Pra quilo de carne produzida são necessários mais de 15.000 litros de água. A produção de carne é principal poluidora de água nas regiões rurais. Os métodos de criação são cruéis e insalubres e se utilizam de hormônios, antibióticos e agrotóxicos que afetam a saúde humana.

A pecuária brasileira foi responsável pelo desmatamento da Mata Atlântica, das matas nordestinas em quase sua totalidade e que do atual desmatamento da Amazônia.

A pecuária hoje é responsável pela maior parte da degradação ambiental hoje no Brasil e só é um negócio lucrativo por não se levar em conta os prejuízos internalizados pelo meio-ambiente e para a sociedade. A pecuária brasileira é um modelo que gera desemprego, que estimula a concentração de terra e poder.

Criou-se o mito que sem carne não há proteína. O documentário desfaz com a mentira, mostrando que o arroz, que é um dos cereais com menos proteínas, possui a quantidade necessária diária para a saúde humana.






segunda-feira, 9 de julho de 2012

O LONGO CAMINHO ATÉ A "ECONOMIA VERDE".



Não surpreende que na Rio+20 se tenha decidido deixar para 2014 a fixação de metas para o desenvolvimento sustentável, a vigorarem a partir de 2015 – de modo parecido com o que se fez na Convenção do Clima, deixando para 2015 a definição de compromissos de redução de emissões poluentes para cada país, mas a serem cumpridos só a partir de 2020. Como o tema inclui também a chamada “economia verde”, igualmente discutida no Rio de Janeiro, as definições são dificílimas, envolvem a produção e os seus caminhos em cada país e no mundo. E aí o carro pega.

Quem leu na última segunda-feira o relato do correspondente deste jornal em Genebra, Jamil Chade, sobre as mudanças no panorama mundial, com os organismos econômicos questionando “a fronteira entre nações ricas e emergentes”, tem ideia da dificuldade das transformações propostas para cada país, considerados o seu nível de riqueza, tipos de exportação e importação, obrigações equivalentes. Quem é Primeiro Mundo hoje? E quem se inclui no campo da pobreza, entre as 194 nações, se um terço da humanidade ainda cozinha em fogões a lenha (Ladislau Dowbor, Eco 21, maio de 2012)? Se já se produzem no mundo 2 bilhões de toneladas anuais de grãos, suficientes para prover cada família de quatro pessoas com 800 gramas diários? Se o PIB mundial de US$ 63 trilhões anuais, distribuído igualitariamente, desse a cada uma dessas famílias US$ 5.400 mensais? Mas como vencer a resistência e mudar critérios para 737 grupos corporativos, 75% dos quais de intermediação financeira, que “controlam 80% do sistema corporativo mundial”?

A “economia verde”, disse o secretário-geral da reunião, Sha Zukang, não trata apenas de “baixo carbono”, tem de ser “discutida no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza”. Mas a Cúpula dos Povos não gostou: a proposta não criticava o capitalismo, as “suas formas de dominação”; seria apenas um “disfarce para mais negócios e exploração dos ecossistemas”, com a ajuda de “tecnologias transgênicas e da biologia sintética” (Agência Brasil, 14/5). Ao longo dos debates, muitas críticas se centraram nas políticas de países que subsidiam fertilizantes inorgânicos, combustíveis fósseis e energias insustentáveis; contribuem para a perda da biodiversidade, com subsídios a certas culturas; e para a redução de empregos no campo, com mecanização acelerada. As operações na agricultura – acentuou-se – contribuem, só elas (fora mudanças no uso da terra e desmatamentos), com 13% das emissões globais, fora as de óxido nitroso (58%) e de metano (47%).

Quem mudará ou quer mudar esse panorama, restaurar a fertilidade do solo com insumos naturais e nutrientes “sustentáveis”? Quem será capaz de “integrar lavoura, floresta e pecuária”? Reduzir insumos químicos e herbicidas? Implantar técnicas de manejo biológico? Reduzir desperdícios na área de alimentos (1,3 bilhão de toneladas anuais, segundo a ONU)? Transferir gratuitamente tecnologias para países mais carentes, de modo a poderem caminhar nessas direções? Determinar que compras governamentais (10% do PIB) tornem prioritários esses caminhos, inclusive na exportação? E como chegar a tudo sem impor penalidades ou barreiras comerciais?

Documentos da ONU (Boletim do Legislativo n.º 2/12, Senado Federal) chegam a dizer que a transformação resultará em “melhoria do bem-estar humano e da isonomia social”, e ainda com “significante redução de riscos ambientais e de escassez ecológica”. Por aí se chegaria ao “bem-estar intertemporal das futuras gerações”, à eliminação de “efeitos da degradação ambiental na oferta agregada”; também a um processo que conduzirá a “uma nova estratégia” e aos financiamentos globais para a “economia verde”. Mas – frisam – não podem ser criadas “barreiras ambientais”. E será preciso reformar o “regime global do direito de propriedade”. Tudo se completará com incentivos para a “economia verde” no valor de 2% do PIB mundial, ou US$ 1,3 trilhão por ano. Por esses caminhos se conseguirá – dizem os documentos – um ganho de 60% na eficiência energética (prédios, indústria, transporte). Entrará na economia o pagamento por serviços ambientais.

A simples enumeração dos objetivos e dos caminhos mostra o quanto é complexa, controvertida, delicada a questão. Mesmo sem entrar em questões decorrentes dessas estratégias. Como, por exemplo, saber onde atuar e de quem cobrar os custos. Na exportação de commodities de países “em desenvolvimento” para países industrializados, por exemplo, quem paga: quem exporta ou quem consome? É discussão semelhante à que ainda não tem solução no âmbito da Convenção do Clima, quando se trata de saber se a redução de emissões cabe aos países que exportam produtos industriais que implicam essas emissões (como os chineses) ou aos países que os importam (como os Estados Unidos, a Alemanha e outros). É o mesmo caso da taxação sobre emissões de empresas aéreas ou de navegação marítima (5% das emissões totais): onde fazê-lo, nos países de origem das viagens ou de destino? E os países no meio do caminho?

E quando se pensa em cobrar por serviços naturais – como na agricultura, por exemplo? Há estudos que mostram um valor de trilhões de dólares anuais para serviços prestados gratuitamente pela natureza – fertilidade do solo, regulação do clima e do regime hidrológico, etc. Vão ser incluídos nos preços de exportação? E nos internos? Países em desenvolvimento (inclusive o Brasil) temem que questões como essa acabem resultando na imposição de barreiras comerciais. Ou em restrições à soberania no uso de recursos naturais.

A tese da “economia verde” é atraente. Mas seus caminhos estão povoados de obstáculos de natureza variada. Mesmo em 2014 não será fácil avançar. As realidades de um mundo diversificado – e em crise – continuarão muito fortes.

Autor: Washington Novaes   -   Fonte: O Estado de S.Paulo

sábado, 7 de julho de 2012

O SAGRADO DIREITO DE CONSUMIR O PLANETA.



Para alegria de muitos, a obrigatoriedade da entrega gratuita e indiscriminada das famigeradas sacolinhas plásticas nas redes varejistas de São Paulo retorna por determinação legal.

Nesse novo round, a Justiça invalidou o acordo firmado entre o governo estadual de São Paulo e a Associação Paulista de Supermercados (APAS), que previa a cobrança pelas sacolas no ato da compra. A Associação prometeu recorrer, mas afirmou que irá cumprir a determinação.

A Justiça levou em conta argumentos como o de direito adquirido anteriormente pelos consumidores e os lucros financeiros com a venda das sacolas que já eram embutidos nos preços dos produtos.

Quanto ao segundo argumento nada a contestar, acredito realmente que seria justo debater essa questão e achar uma alternativa não lesiva aos consumidores. As sacolas “gratuitas” eram realmente uma ilusão, o consumidor sempre pagou por elas, mesmo sem saber disso.

Agora, quanto a um direito adquirido, isso é no mínimo, algo difícil de aceitar! O Código de Defesa do Consumidor brasileiro é um dos mais avançados do mundo e possui em seus artigos um arcabouço legal de proteção aos direitos das pessoas, dos consumidores contra a ganância, a irresponsabilidade e o poder econômico de empresas e governos, na venda de produtos e na prestação de serviços. Por outro lado, é preciso também entender que os consumidores, antes de tudo cidadãos, possuem também responsabilidades.

As sacolas plásticas são simbólicas nesse sentido. Se ao mesmo tempo os consumidores podiam e novamente podem adquirir quantas delas achar necessário, eles também se sentem no direito de descarta-las como e onde considerarem convenientes. Afinal, esse consumidor não paga impostos?

A falsa sensação da “sacolinha grátis” sempre fez com que esse artigo banal de consumo não tivesse valor nenhum. Por essa razão, são inúmeros os exemplos de sacolas “jogadas” em qualquer lugar. Muitas delas podem ser vistas cotidianamente e sem nenhum esforço, basta olhar a sua volta, nos rios, mares, ruas e praças.  Foram, por acaso, os marcianos que as deixaram nesses locais? Não, foram os consumidores que possuem direitos inalienáveis de fazer o que bem entenderem com elas.

Aos sempre indignados com quaisquer mudanças que firam o ciclo insano do consumismo, poderão afirmar não desprovidos de alguma razão, que tal proibição não resolve nossos problemas de geração de lixo, de poluição e que existe uma infinidade de produtos embalados em plástico pelos próprios fabricantes, etc, etc…

Tudo isso é verdade, o que não altera a urgente necessidade de mudanças na maneira como consumimos. A restrição no uso indiscriminado de sacolinhas plásticas tem um caráter eminentemente simbólico e, bem ou mal, o consumidor já tentava se adaptar a uma nova realidade com o uso de sacolas retornáveis. A Justiça freiou esse processo, no meu entender, de modo pouco inteligente.

Muitas outras ações precisarão ser tomadas e implementadas com urgência, pois nossos problemas ambientais só tendem a crescer de maneira exponencial nos próximos anos. Se formos contar com a boa vontade das pessoas e a conscientização voluntária, estamos condenados a acelerar cada vez mais a destruição dos nossos recursos. É preciso dar passos rápidos no caminho para um mundo menos insustentável.

A questão é não ser possível acreditar que está tudo bem se a cada dia surgem novas informações colocando mais e mais pressão sobre o planeta. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) calculou que a humanidade consumia em 2005, 60 bilhões de toneladas de recursos anualmente. Isso dá um consumo de 9 toneladas para cada habitante do planeta.  De lá pra cá, não é preciso ser especialista, esses números só podem ter crescido.

Novamente espero a manifestação daqueles revoltados que ficam aboletados em suas poltronas prontos a criticar sem propor absolutamente nada: “quer dizer que você acredita que acabar com as sacolas plásticas vão resolver todos os nossos problemas?”

Se tivermos sempre a atitude de contestar qualquer medida de limitação aos nossos insustentáveis hábitos de consumo e tudo for visto como algo que: irá ferir direitos e confortos pétreos e imutáveis, isso irá significar que num futuro pouco distante, vamos conviver com restrições ainda mais severas. Elas, invariavelmente, deverão ser tomadas de cima para baixo, impostas arbitrariamente e penalizando, como sempre, primeiro os mais pobres.

Pense nisso e enxergue um pouco além das sacolas plásticas. O problema é muito maior que o plástico, mas também passa por ele.

Autor: Reinaldo Canto   -   Fonte: Carta Capital/Envolverde

quinta-feira, 5 de julho de 2012

BRASIL NÃO CUMPRE CONVENÇÃO DA OIT QUE GARANTE CONSULTA PRÉVIA A ÍNDIOS EM PROJETOS.



A Convenção 169 sobre Povos Indígenas e Tribais da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que foi ratificada pelo Brasil, internalizada pelo direito brasileiro em 2004 e dá aos índios o direito de serem ouvidos e informados antes de que um empreendimento ou projeto governamental venha a explorar os recursos das terras indígenas em suas comunidades, não está sendo cumprida.

A conclusão foi apresentada pela procuradora regional da República em São Paulo, Maria Luiza Grabner, durante a oficina Os Povos Indígenas e o Direito à Consulta Prévia, Livre e Informada, que terminou nesta segunda-feira (2) na aldeia Tenondé Porã, em Paralheiros, na zona sul de São Paulo, e teve a participação de lideranças de 12 aldeias de índios guaranis de São Paulo.

“[O governo brasileiro] não tem cumprido a convenção da OIT”, disse Maria Luiza, que participou da oficina, que é promovida pela Comissão Pró-Índio de São Paulo. “Muitas vezes, o que vemos são arremedos de consulta ou oitivas, quando o processo político já aconteceu e a tomada de decisões já ocorreu”, falou a procuradora.

Um informe divulgado pela OIT este ano mostrou que o direito à consulta pública no Brasil não foi respeitado nos casos envolvendo a construção da usina de Belo Monte, no Rio Xingu, por exemplo. Segundo Lucia Andrade, coordenadora da Comissão Pró-Índio de São Paulo, as lideranças indígenas também relataram que o mesmo ocorreu na obra de construção do Rodoanel, em São Paulo.

“Essa é uma das maiores queixas dos povos indígenas. Os empreendimentos estão acontecendo, os projetos de lei estão sendo aprovados sem que exista uma real consulta. Muitas vezes, o que ocorre é uma comunicação, somente informando que o projeto será realizado, mas sem que seja construído um acordo”, disse Lucia Andrade.

Segundo Renato Mendes, da Organização Mundial do Trabalho, a ratificação da convenção pelo Brasil obriga que o governo informe aos povos indígenas e quilombolas sobre obras que podem afetar a comunidade onde vivem.

“O Brasil, nesse momento, após a ratificação da convenção, quer regulamentar um de seus artigos, que se relaciona à consulta prévia, livre e informada, que é esse direito. Povos indígenas e comunidades reconhecidas como sujeitos de direito, como os quilombolas, têm o direito de, em qualquer obra ou ação da política pública, legislativa, administrativa ou judiciária, e que possa afetar a vida e o desenvolvimento desses povos, receber informação para saber as consequências dessa tomada de decisão”, disse Mendes.

Caso não seja possível um acordo entre as partes, será preciso estabelecer procedimentos para minimizar os impactos negativos sobre a vida desses povos. “A consulta prévia é um processo de negociação para chegar ao consenso”, acrescentou.

Em janeiro deste ano, o governo federal criou um grupo de trabalho para estudar, avaliar e apresentar uma proposta de regulamentação dos procedimentos de consulta prévia prevista na Convenção 169. A proposta deverá ser aprovada até dezembro de 2013, após a realização de vários encontros regionais, em todo o Brasil.

Conscientização – A oficina Os Povos Indígenas e o Direito à Consulta Prévia, Livre e Informada teve início na última sexta-feira (29) e terminou nesta segunda-feira (2) com a participação de líderes indígenas de aldeias da capital paulista, do litoral sul e norte de São Paulo e do Vale do Ribeira. A intenção de se promover a oficina, segundo a procuradora Lúcia Andrade, é preparar os índios guaranis para participar do processo de regulamentação da consulta prévia.

Para os indígenas, a participação nas oficinas foi muito importante. “Como os indígenas não saem muito das aldeias e preferem a tranquilidade, alguns acabam não tendo muito conhecimento sobre projetos de lei e emendas que afetam seus territórios e suas vidas. Como é uma oficina dentro da aldeia, isso ajuda muito”, disse o índio Adriano Veríssimo (em guarani, Karai Poty), coordenador educacional do Centro de Educação e Cultural Indígena (Ceci) e que vive na aldeia Tenondé Porã.

“Até sabia que existia a lei, mas nunca soubemos como deveríamos compartilhá-la”, disse Alcides Mariano Gomes, cacique da aldeia Paranapuã, em São Vicente (SP). “O governo brasileiro primeiro faz os projetos e vem com os projetos todos prontos para apresentar aos indígenas e, dependendo da situação, acho que deveria haver uma negociação. Não só para o lado dos brancos, mas para o lado dos índios. Ficamos um pouco tristes porque não sabíamos [da convenção], mas era um direito que estava sendo escondido”. Tudo o que aprendeu durante a oficina, Alcides pretende compartilhar com sua aldeia.

Fonte: Agencia Brasil

terça-feira, 3 de julho de 2012

DOCUMENTÁRIO: SUPER SIZE ME - A DIETA DO PALHAÇO



(EUA, 2004,100min.) Dirigido, produzido, escrito e estrelado por Morgan Spurlock.
Produção independente, Super Size Me, mostra o que acontece quando uma pessoa saudável (no caso, o próprio diretor) passa 30 dias comendo apenas e tão somente em McDonald´s.

Ganho de 11kg de peso, problemas no rins, fadiga, colesterol, são apenas alguns dos vários sintomas acumulados durante esse curto período.

Mostra também todas as ferramentas que o McDonald´s usa para seduzir as crianças, através do uso de comerciais de TV, brinquedos e até desenhos animados.



segunda-feira, 2 de julho de 2012

BEM VINDOS AO ANTROPOCENO.



Segundo o historiador Arnold Toynbee em seu livro “A humanidade e a mãe Terra”, escrito de um só fôlego no hospital em que estava internado, a humanidade começou una. Embora com culturas distintas, todos os humanos organizavam-se em pequenos grupos que viviam da coleta, da pesca e da caça. Para a prática de atividade econômica tão rudimentar, pois que visava somente a subsistência num mundo natural esmagador, os grupos desenvolveram tecnologias simples. Toynbee disse que a tecnosfera começou já no Paleolítico Inferior, embora não ameaçasse a biosfera. A arma mais poderosa dos hominídeos era o fogo, já existente na natureza.

O segundo passo no processo de desenvolvimento tecnológico foi registrado no alvorecer do Neolítico. A ultima glaciação recuou há cerca de 11 mil anos, colocando um desafio para a humanidade: viver num período quente ou sucumbir. Essa fase nova foi batizada pelos cientistas de Holoceno. É nela que vivemos. Na origem dela, alguns grupos inventaram a agricultura e o pastoreio, criando condições para o sedentarismo. Outros buscaram ambientes aos quais já estavam acostumados no período frio. Outros, finalmente, sucumbiram por não encontrarem solução para o desafio criado pelo aquecimento global natural. Os grupos sedentários promoveram o avanço da tecnosfera sobre a biosfera.

Ainda seguindo Toynbee, o terceiro passo é representado pelas primeiras civilizações. Além da agricultura e do pastoreio, elas promoveram grandes obras de drenagem e de irrigação. Suprimiram florestas para a expansão da lavoura e do gado. Criaram cidades-estados e grandes impérios. A tecnologia que muito avançou nesse terceiro momento foi a da guerra. A substituição da biosfera pela tecnosfera causou crises ambientais localizadas, geralmente reversíveis quando cessados os impactos ambientais.

Vejo, como quarto passo, o nascimento do modo de produção capitalista na Europa Ocidental, por volta do século XV. Este sistema econômico revelou-se perverso desde seus primórdios, pois transformou os bens de uso em bens de troca. A economia, agora, não visava mais atender às necessidades básicas das pessoas, mas obter lucro com sua venda. Foi este desejo que impulsionou a expansão terrestre e marítima da Europa Ocidental. Foi ele o responsável pela dizimação dos povos indígenas de outros continentes, da exploração de minérios, de plantas e de animais, da implantação de sistemas de produção fora da Europa e da escravidão na América. A preparação intelectual para o próximo passo formula-se nesse quarto momento. A tecnosfera avançou bastante sobre a biosfera e deixou nela cortes profundos que não foram devidamente cicatrizados.

Por fim, o quinto passo é representado pelas revoluções industriais do fim do século XVIII, do fim do século XIX e do pós-Segunda Guerra Mundial. A extração de recursos naturais não renováveis, especialmente os ricos em carbono, bem como a produção de resíduos sólidos, líquidos e gasosos alcançaram níveis inauditos. A tecnosfera avançou como um exército brutal e implacável sobre a biosfera, levando o mundo ocidental e ocidentalizado a criar uma crise ambiental sem precedentes no passado do planeta: pela primeira vez na história da Terra, uma espécie animal, agindo coletivamente, conseguia produzir uma crise socioambiental global.

Especialistas mostram que as grandes fases geológicas têm seu início e seu fim por mudanças climáticas, continentais e biológicas profundas. O começo da Era Paleozóica foi marcado pelo aparecimento de animais pluricelulares invertebrados. Seu fim foi provocado por uma grande crise que quase extinguiu todas as espécies animais aquáticas. Teve início, então, a Era Mesozóica, em que predominaram os dinossauros. Estes se extinguiram no fim do Mesozóico, abrindo espaço para os mamíferos. Ao todo, foram cinco crises colossais.

Agora, estamos vivendo a sexta crise, esta produzida pela ação coletiva do ser humano. Paul Crutzen, prêmio Nobel de química em 1995, propôs, em 2000, uma nova época geológica que eles denominou de Antropoceno. Pela primeira vez na história da Terra, um ser vivo – o “Homo sapiens” – cria um novo momento geológico. Como evidências da nova época, o Instituto Resiliência de Estocolmo aponta as colossais emissões de gases que mudam a atmosfera e provocam aquecimento global, assim como o esgarçamento da camada de ozônio; acidificação dos oceanos; as grandes transformações nos continentes, com a supressão das formações vegetais nativas, substituídas por lavouras, pastagens e cidades; a maciça extinção da biodiversidade; a grande circulação de produtos químicos em todo o planeta; a escassez crescente de água doce; e a enorme produção de poeira. Toynbee acertou em cheio: a tecnosfera avançou sobre a biosfera de forma insustentável. Entramos no Antropoceno e não sabemos como sair dele. A Rio+20 é um remédio muito fraco para uma doença muito forte.

Autor: Arthur Soffiati   -   Fonte: Aliança RECOs

domingo, 1 de julho de 2012

INDÚSTRIA PORCA

Nas últimas décadas, a produção e o consumo de carne aumentaram em escala mundial. Os padrões de consumo, bem como os métodos produtivos pecuários mudaram radicalmente. Porém, quais os impactos sociais, ao meio ambiente, trabalhistas… da indústria pecuarista? Quem ganha e quem perde nesse negócio? No presente artigo, abordamos ditas questões.



Uma revolução pecuarista?


A partir dos anos 50 a produção de carne em âmbito mundial multiplicou-se por cinco. A produção de porco, seguida pela de frango e de terneiro são as que registraram maiores aumentos(1). O consumo de carne nos países do sul multiplicou-se por dois entre 1964-66 a 1997-99, no qual passaram de consumir 10,2kg anuais por pessoa para 25,5kg; e, para 2030, espera-se um incremento de até 37kg. Porém, esse crescimento tem sido desigual, registrando-se um aumento significativo da demanda no Brasil e na China, enquanto que na África subsaariana as cifras permanecem estancadas. Nos países do Norte se prevê o consumo de carne por pessoa/ano de 88kg em 1997-99 para 100kg em 2030(2).


A indústria pecuarista converteu-se em um elemento central do crescimento da agricultura em todo o mundo, apostando por um modelo de pecuária industrial e intensiva, que tem recebido o nome de “revolução pecuária”(3). Esse sistema significa um incremento exponencial da produção e do consumo de carne e derivados, seguindo o mesmo padrão produtivista da revolução verde (uso intensivo do solo, insumos químicos, “melhoria” genética etc.) ao mesmo tempo em que modificou nossa dieta alimentar. Um modelo que tem promovido a concentração empresarial, deixando em mãos de um punhado de multinacionais do agronegócio a capacidade de decidir sobre que carne e derivados consumimos, quantos e como são elaborados.

Porém, se a revolução verde prometeu acabar com a fome no mundo e não conseguiu; ao contrário, as cifras de famintos não param de aumentar, superando 1 bilhão, conforme indica a Organização das Nações unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO)(4); o aumento na produção de carne tampouco significou uma melhora na dieta alimentar. Pelo contrário, e como analisaremos a seguir, o aumento do consumo de carne tem gerado maiores problemas de saúde e sua lógica produtivista tem tido um impacto negativo no meio ambiente, no campesinato, nos direitos animais e nas condições trabalhistas. Aumentar a produção não implica em um maior acesso àquilo que se produz, como bem demonstra o fracasso da revolução verde e da revolução pecuária.

Planeta em xeque

Hoje, a pecuária representa 40% do valor bruto da produção agropecuária mundial, superando 50% nos países do Norte; e é a principal utilitária de terra agrícola, seja por via direta, mediante o pastoreio ou pela via indireta, pelo consumo de ração e forragem(5). Geralmente, ambos usos são resultado do desmatamento de bosques virgens e de selvas tropicais, com a consequente degradação dos solos e dos recursos hídricos.

Devido a essas práticas, milhares de camponeses foram expulsos de suas terras, agora destinadas a monocultivos de cereais para a alimentação animal. A pecuária camponesa, diversificada, local e familiar está sendo substituída por um modelo intensivo, monopecuário, corporativo e exportador, com o qual os primeiros não podem competir.

Outro impacto reside na geração da mudança climática. Calcula-se que a pecuária industrial produz 18% dos gases de efeito estufa, superando o setor de transporte. Concretamente, é a responsável por 9% das emissões de CO2, devido ao uso intensivo da terra e ao desmatamento; por 65% do óxido nitroso, a maior parte procedente do esterco; por 37% das emissões de metano (muito mais prejudicial do que o CO2), originado pelo sistema digestivo dos ruminantes; e por 64% do amoníaco, que contribui significativamente para a chuva ácida(6).

Apesar de que a revolução pecuária disse “melhorar” as raças de gado em resposta aos interesses do mercado e promovendo as mais produtivas, resistentes a enfermidades, de fácil adaptação ao meio etc., isso não significou um enriquecimento de nossa alimentação. De fato, a variedade de raças animais, bem como de espécies vegetais reduziu-se drasticamente nos últimos anos. Calcula-se que 30% das raças de animais domésticos estão em perigo de extinção, o que significa o desaparecimento de três raças domésticas a cada duas semanas(7). A cada dia, nossa alimentação depende de menos variedades animais e vegetais, o que implica uma maior insegurança alimentar.

O uso intensivo e a contaminação da água é outra das consequências derivadas da revolução pecuária. Atualmente, a agricultura e a pecuária consomem entre 70 e 80% do total da água doce disponível, segundo dados do II Fórum Mundial da Água (Haya, 2000). Produzir um quilo de proteína animal na industrial pecuária requer 40 vezes mais água do que a produção de um quilo de proteína cereal ou 200 vezes mais do que um quilo de batatas(8). Como bem assinala o filósofo e ecologista Jorge Riechmann: “Em um mundo finito, onde a escassez de água doce tem se convertido em um fator limitante essencial, consumir 1 é o mesmo que consumir 40?(9) Plantar espinafres não é a mesma coisa que plantar comida para vacas. A mesma quantidade de terra produzirá 26 vezes mais proteínas para consumo humano se cultivarmos espinafres em vez de forragem(10).

Os dejetos animais, os antibióticos, os hormônios, os produtos químicos, os fertilizantes, os pesticidas são os principais agentes contaminantes. A pecuária industrial, por exemplo, é a principal responsável pelas emissões de amoníaco que contaminam e acidificam águas e solos. E o sobrepastoreio impede a renovação dos recursos hídricos tanto da superfície quanto os subterrâneos.

Nossa saúde ameaçada

Trata-se de impactos que afetam as comunidades. “Os gases emitidos por uma granja suína em escala industrial são muito tóxicos. Há muitos gases voláteis misturados com pó, bactérias, antibióticos e formam uma mistura muito complexa de mais de 300 ou 400 substâncias as quais estão expostos os vizinhos, famílias, crianças”,afirma David Wallinga, do Institute for Agriculture and Trade Policy, no documentário Pig Bussiness (2009), de Tracy Worcester, com o consequente aumento de doenças de diferentes índoles que atingem os que vivem nas proximidades dessas instalações.

Nossa saúde é outra prejudicada por esse modelo pecuário. Somos o que comemos e está claro que se consumimos carne produzida com altas doses de hormônios, antibióticos, rações transgênicas etc. tem um custo para nosso organismo. As dietas excessivamente carnívoras geram problemas cardíacos, de hipertensão, câncer, obesidade, diabetes. Apesar de que esse é somente um elemento a mais de um sistema agrícola e alimentar que nos enferma, tal como analisa Marie-Monique Robin, em seu documentário Notre poison quotidien (2010), ou como demonstrou Morgan Spurlock, submetendo-se durante trinta dias a uma dieta a base de “comida lixo”, no Mc Donalds e que documentou em seu filme Super Size Me(2004) (A dieta do Palhaço, em português).

Direitos dos animais

Os animais converteram-se em matéria prima industrial e as granjas deixaram de ser granjas para converter-se em fábricas de produção de carne ou modelos de “pecuária não ligada à terra”, como é denominada no setor. A mesma lógica capitalista e produtivista que rege outros sistemas impera no modelo pecuário atual; porém, nesse caso, as mercadorias são animais. “aplicam-se à criação de animais sistemas industriais desenhados para fabricar carros e máquinas. É algo incrivelmente cruel que nenhuma sociedade deveria tolerar”, afirma Tom Garrett, do Welfare Institute, no documentário Pig Bussiness.

A prática produtivista converte aos animais em enfermos crônicos. Instalações que impedem seu movimento, má alimentação, isolamento, estresse etc. são somente algumas amostras do maltrato animal. Para compensar seu estado de saúde recebem antibióticos para combater infecções crescentes, bem como hormônios reprodutores para compensar sua perda de fertilidade. Na Europa, a pecuária industrial utiliza a metade dos antibióticos comercializados. Desses, um terço são administrados preventivamente, junto com a ração(11).

Smithfield Foods, um exemplo

A revolução pecuária implica em um crescente monopólio e integração vertical do setor, onde umas poucas empresas controlam todo o processo de produção de carne, desde a criação até o abate e embalagem.

Por exemplo, a multinacional estadunidense Smithfield Foods e a maior produtora e processadora de carne de porco, com ingressos de 11 bilhões de dólares anuais, em 2010, contrata 48 mil pessoas e desde sua sede nos Estados Unidos expandiu-se para 15 países(12). E para evitar as regulamentações trabalhistas e de meio ambiente estritas, Smithfield Foods trasladou grande parte de suas operações para outros países com legislações mais flexíveis.

Entre 1990 e 2005, seu crescimento foi de 1.000%, aumentando seu controle sobre cada ponto da cadeia produtiva e ganhando novos mercados a custa de acabar com pequenos pecuaristas(13).

Smithfiels Foods é conhecida pelas inúmeras acusações e denúncias que tem recebido por contaminação ambiental. A mais importante, em 2009, quando Granjas Carroll, uma de suas empresas subsidiárias no México foi acusada de ser o epicentro do brote de gripe suína, Gripe A, que assolou o país e se propagou globalmente(14).

A vulneração dos direitos trabalhistas é outra de suas práticas habituais. Escalada no número de acidentes trabalhistas, demissões, abusos verbais… são alguns dos casos recolhidos no relatório “Empaquetado con abuso”(15), elaborado pelo Sindicato United Food and Commercial Workers Union (UFCW), que analisava as condições de segurança laboral no matadouro e planta de empacotamento de Smithfield Foods, em Tar Hell, Carolina do Norte, o maior do mundo, com 5.500 empregados. E onde a UFCW tentou durante mais de uma década organizar seus trabalhadores, com a oposição frontal da empresa, e que, finalmente, conseguiu em umas eleições sindicais no final de 2010.

Segundo um relatório de Human Rights Watch, publicado em 2005-6, trabalhar na indústria da carne é o emprego fabril mais perigoso nos EUA. Esse informe assinalava o abuso sistemático da mão de obra imigrante sem documentos, a intimidação, a falta de indenizações, as represálias e as ameaças de demissão contra os que denunciam abusos etc. Umas práticas que foram recolhidas à perfeição no filme Fast Food Nation (2006), de Richard Linklater Fast.

Definitivamente, um sistema de produção pecuário que nos adoece, acaba com a agrodiversidade, vulnera os direitos dos animais, contamina o meio ambiente, destrói a pecuária camponesa e explora a mão de obra.


Autor: Esther Vivas