segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Indústria ainda não cumpre obrigação de rotulagem de transgênicos.



Defensores de direitos de consumidores e ambientalistas afirmam que a indústria de alimentos ainda não está cumprindo a lei que determina a especificação em rótulo informando os consumidores sobre a presença de ingredientes produzidos a partir de organismos geneticamente modificados (OGMs). O símbolo, que deveria constar em qualquer alimento com mais de 1% de origem transgênica, é um “T” de cor preta sobre um fundo amarelo em formato de triângulo (semelhante a uma placa de trânsito).

“Falta informação nesse sentido”, aponta a especialista da Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor de São Paulo, Andrea Benedetto Arantes. “O consumidor tem o direito de escolher”, ressalta o ex-coordenador da campanha contra os transgênicos do Greenpeace, Iran Magno.

“A informação é extremamente relevante neste caso por uma questão de saúde pública”, alerta Juliana Ferreira, advogada do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). “Infelizmente, se a rotulagem não é feita adequadamente, não há meios de o consumidor saber, ficando tolhido em seu direito de escolha e de ser adequada e claramente informado”, aponta a advogada.

Em março deste ano, o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça e os órgãos estaduais de defesa do consumidor da Bahia, de Mato Grosso e São Paulo identificaram dez produtos (entre bolos recheados, biscoitos, barras de cereais e misturas para panquecas) com ingredientes transgênicos, mas sem a devida rotulagem. Processo administrativo está correndo no DPDC, onde há duas instâncias de tramitação (inclui recurso) e direito de contraditório e de defesa dos fabricantes.

A regra, definida pelo Decreto nº 4.680/2003, estabelece que “tanto nos produtos embalados como nos vendidos a granel ou in natura, o rótulo da embalagem ou do recipiente em que estão contidos deverá constar, em destaque, no painel principal e em conjunto (…) uma das seguintes expressões, dependendo do caso: '(nome do produto) transgênico', 'contém (nome do ingrediente ou ingredientes) transgênico(s)' ou 'produto produzido a partir de (nome do produto) transgênico'”.

O decreto ainda determina o detalhamento sobre a espécie de doadora do gene no local reservado para a identificação dos ingredientes. A norma vale para produtos de origem vegetal e para produtos de origem animal se alimentados com ração transgênica. O decreto prevê que notas e recibos também informem sobre a transgenia no caso da soja.” As expressões 'pode conter soja transgênica' e 'pode conter ingrediente produzido a partir de soja transgênica' deverão, conforme o caso, constar no rótulo, bem como da documentação fiscal, dos produtos (...), independentemente do percentual da presença de soja transgênica”.

Para Gabriel Bianconi Fernandes, da AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia, é preciso que toda a cadeia produtiva esteja segregada, ou seja, o cultivo dos alimentos, o transporte, o armazenamento e a indústria tratem separadamente alimentos de origem transgênica e alimentos convencionais.
“A não existência de uma estrutura adequada de segregação é um desestímulo para aquele produtor que está lutando para manter a lavoura da soja convencional, porque, se não misturar na lavoura, vai misturar no caminhão ou no silo. Isso ajuda a explicar o porquê da adoção tão grande da semente transgênica”, avalia Fernandes.

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner, diz que “o consumidor deve ser respeitado de todas as formas” e que “por parte do produtor, não há dificuldade nenhuma em identificar os transgênicos. Isso está dentro do trabalho do dia a dia”. Segundo ele, é possível reconhecer um grão de soja modificado em meio a 500 não modificados.

Edilson Paiva, presidente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), pondera que o Brasil é “o único país que rotula transgênicos”. Para ele, “lei se obedece, mas em um futuro próximo vai ter que mudar. Se eu fosse rotular, eu rotularia o não transgênico é que vai virar exceção”, sugere.

Na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei nº 4.148/2008, do deputado Luis Carlos Heinze (PP/RS), propõe que “aos alimentos que não contenham organismos geneticamente modificados será facultada a rotulagem 'livre de transgênicos', desde que tenham similares transgênicos no mercado brasileiro e comprovada a total ausência no alimento de organismos geneticamente modificados, por meio de análise específica”. O PL aguarda desde maio para ir à votação.

Segundo orientação da Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor de São Paulo, o consumidor deve ler os ingredientes do alimento industrial que está comprando e verificar a presença do símbolo dos transgênicos nos rótulos. Caso fique em dúvida, ou tenha alguma reclamação a fazer, deve acionar os órgãos de defesa do consumidor do estado (Procon), órgãos da agricultura (por exemplo, a secretaria) e os órgãos de vigilância sanitária.

Fonte: Agência Brasil

domingo, 30 de outubro de 2011

Nova tecnologia permite mapeamento detalhado das florestas.

Sistema de monitoramento desenvolvido pelo Instituto Carnegie para Ciência detecta minuciosamente biodiversidade das florestas, composição do solo e captura de carbono, e pode auxiliar na preservação de ecossistemas.

Já diz uma máxima popular que para preservar é necessário conhecer. Se o ditado for verdadeiro, o novo sistema de monitoramento florestal criado pelo Instituto Carnegie para Ciência, que oferece um mapeamento detalhado para a vegetação, promete ser de grande valia para a conservação da natureza. Resta saber se essa tecnologia será realmente utilizada para ajudar a manter de pé nossas florestas e alimentar nossa esperança de um futuro mais verde.

O Airborne Taxonomic Mapping System (Sistema de Mapeamento Taxonômico Aéreo – AtoMS) foi idealizado por Greg Asner, pesquisador do Instituto Carnegie, a partir Carnegie Airborne Observatory (Observatório Aéreo Carnegie – CAO), e consegue captar imagens individuais de árvores a uma taxa de 500 mil ou mais por minuto, permitindo aos cientistas criar um mapa tridimensional de alta resolução da estrutura física, química e ótica da floresta.

De acordo com Asner, o sistema, utilizado na Amazônia, visa sobretudo medir a biodiversidade das florestas. “A ideia era medir as coisas que os botânicos medem no solo para avaliar a biodiversidade. Não havia tecnologia que pudesse medir cada uma das características que precisávamos, então decidimos unir tecnologias que estavam perto de fazer algumas dessas coisas. Ao longo disso, desenvolvemos algumas tecnologias novas”, declarou o cientista.

Uma dessas tecnologias é conhecida como LiDAR, e é constituída por dois lasers que penetram a vegetação e chegam até o solo, retornando com informações sobre a estrutura florestal. Dependendo da altitude do avião onde o LiDAR é transportado, os sensores podem mapear a floresta com resoluções que variam de 10 centímetros a um metro, o que torna possível analisar detalhadamente a diversidade vegetal.

Além da vegetação, essa tecnologia também é muito eficiente para captar informações sobre a estrutura, elevações e relevos do solo, a biomassa da floresta, bacias hidrográficas e hidrovias e até a quantidade de carbono armazenada na vegetação e no solo. 

Mas para identificar as estruturas captadas pelo LiDAR, inclusive aquelas que não podem ser vistas a olho nu, os cientistas precisam conhecer as características e espécies da região rastreada. Para isso, eles utilizam o sensor VSWIR Imaging Spectrometer (VSWIR Espectrômetro de Imagem).

Esse sensor pode detectar dezenas de sinais da vegetação, incluindo as concentrações de pigmentos fotossintéticos, o teor de água das folhas e os compostos estruturais como a lignina, a celulose, o fósforo e outros micronutrientes, que podem ser utilizados para distinguir as espécies de plantas e outras questões relacionadas à condição das florestas.

“Quando as folhas interagem com a luz do sol, os compostos se curvam, esticam e vibram em padrões e taxas diferentes. Essas taxas diferentes levam a diferentes dispersões de luz. Essa é a porta de entrada para entender a química do sistema. Podemos fazer um mapa de onde as árvores estão crescendo mais rápido. O espectrômetro é uma importante descoberta”, explicou Asner.

Porém, para obter esse conhecimento, os pesquisadores precisam primeiro fazer um trabalho de campo para coletar informações sobre as propriedades das plantas e coloca-las em uma base de dados, que alimenta a biblioteca do sistema.

Na Amazônia, a equipe de Asner fez um trabalho de campo para reunir informações de cerca de cinco mil espécies de plantas. “Temos a melhor equipe de alpinistas de árvore do mundo. Eles podem escalar 75 árvores por dia, realizando a amostragem total”, afirmou o cientista.

Com o novo sistema, é possível identificar as características da vegetação de regiões onde o homem não pode chegar, pois a partir das amostras coletadas, é possível verificar a diversidade de espécies em outros locais da Amazônia. “Estamos analisando a biodiversidade em regiões que nunca haviam sido colocadas no mapa da ciência”, diz Asner.

Além de servir para mapear a biodiversidade da região, o novo sistema poderá ajudar a mensurar o armazenamento de carbono na vegetação e no solo – auxiliando o desenvolvimento de programas como a Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal (REDD) – e a taxa de crescimento da vegetação – contribuindo para o monitoramento de preservação e conservação florestal.

“A floresta que tem solos do Pleistoceno retém 20% menos carbono. A única forma de saber isso é pelo sensor. Visualmente, tudo parece igual visto de cima”, exemplifica Asner. “Com suas capacidades expandidas, o novo CAO nos ajuda a entender a química, estrutura e biodiversidade da floresta. Ele também pode fornecer indicações da saúde florestal – incluindo evidências de estresse hídrico – assim como potenciais ameaças da atividade humana”.

No entanto, para aplicar a nova tecnologia em outras florestas, os cientistas garantem que serão necessários mais estudos. “A diversidade botânica nos dois lugares onde trabalhamos foi muito bem documentada. No entanto, aplicar esse método em uma nova área vai requerer levantamento de dados em campo”, disse Pete Lowry, diretor do Departamento da África e Madagascar do Jardim Botânico Missouri e que trabalhou com Asner em pesquisas anteriores.

Ainda assim, outros estudiosos acreditam que a nova tecnologia pode ser particularmente útil na realização de avaliações biológicas em áreas desconhecidas. “Qualquer ferramenta que dê uma aproximação de primeira ordem sem os altos custos de trazer uma grande equipe de expedição vai ser uma ferramenta valiosa”, argumentou o ecologista Adrian Forsyth, fundador e líder da Associação de Conservação da Amazônia.

Fonte: Instituto CarbonoBrasil/Mongabay/Universidade de Yale

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

INFORMAÇÃO URGENTE!! PEIXE PANGA (NÃO COMA).


O panga é um peixe de cultura intensiva/industrial no Vietname, mais exatamente no delta do rio Mekong e está a invadir o mercado devido ao seu preço.

Eis o que deve saber sobre o Panga:

Os Pangas estão infestados com elevados níveis de venenos e bactérias. (arsénio dos efluentes industriais e tóxicos e perigosos subprodutos do crescente setor industrial, metais pesados, bifenilos poli clorados (PCB), o DDT e seus (DDTs), clorato, compostos relacionados (CHLs), hexaclorocicloexano isómeros (HCHs), e hexaclorobenzeno (HCB)).

O rio Mekong é um dos rios mais poluídos do planeta.(Na guerra do Vietnã o último recurso americano foi jogar o "agente laranja"(desfolhante e cancerígeno).


Não há nada de natural nos Pangas - Eles são alimentados com restos de peixes mortos, ossos e de solo seco, transformados numa farinha, com mandioca e resíduos de soja e grãos. Obviamente, este tipo de alimentação não tem nada a ver com a alimentação num ambiente natural.

Ela não faz do que assemelhar-se ao método de alimentação das vacas loucas (vacas que foram alimentadas com vacas, lembra-se?) A alimentação dos pangas está completamente desregulada.. O panga cresce 4 vezes mais rápido do que na natureza ...
Além disso os pangas são injetados com PEE (alguns cientistas descobriram que se injetassem as fêmeas pangas com hormonios femininos derivados de desidratado de urina de mulheres grávidas, a fêmea Panga produziria os seus ovos muito rapidamente e em grande quantidade, o que não aconteceria no ambiente natural (uma Panga passa a produzir assim aproximadamente 500.000 ovos de uma vez). Basicamente, são peixes com hormonios injetáveis (produzidos por uma empresa farmacêutica na China) para acelerar o processo de crescimento e reprodução. Isso não pode ser bom.

Ao comprar pangas estamos colaborando com empresas gigantes sem escrúpulos e gananciosas que não se preocupam com a saúde e o bem-estar dos seres humanos.

Este comercio está sendo aceito por países que os vendem ao público em geral, sabendo que estão vendendo produtos contaminadas.

Nota: devido à prodigiosa quantidade de disponibilidade de Pangas, este irá acabar em outros alimentos: surimi ( alimentos com pasta de peixe), peixe terrines e, provavelmente, em alguns alimentos para animais. ( cães e gatos!)

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

PNUMA e WRI destacam ideias para lidar com o clima


Relatório afirma que os atuais esforços internacionais não evitarão as piores consequências do aquecimento global e avalia mais de 130 propostas de centros de pesquisa, governos e ONGs para mitigar o fenômeno


A menos de um mês para a Conferência do Clima (COP 17) em Durban, na África do Sul, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e o Instituto de Recursos Mundiais (WRI) divulgaram um relatório que alerta que o aquecimento global ultrapassará a marca de 2ºC até o fim do século se os compromissos firmados pelos países continuarem tão tímidos.

Cientistas acreditam que manter o aquecimento em no máximo 2ºC é crucial para evitar a multiplicação de fenômenos climáticos extremos, como secas e enchentes, assim como para prevenir o desaparecimento de milhares de espécies e até de países insulares.

Mas o relatório, intitulado Construindo um Regime de Mudanças Climáticas: Pesquisa e Análise de Iniciativas, não foi apresentado apenas para criticar a situação dos compromissos climáticos. Sua maior importância está em trazer uma análise das sugestões disponíveis para melhorar o cenário político internacional.

“Este documento oferece muitas opções que podem ser viáveis tanto pelas negociações formais sob a ONU quanto como medidas complementares. São ideias que podem ajudar os países a adotar rapidamente modelos de baixo carbono, de eficiência de recursos e de resiliência climática”, afirmou Achim Steiner, diretor executivo do PNUMA.

O relatório destaca a necessidade de mobilizar os setores público e privado nos mais diversos níveis e aproveitar o máximo que eles podem oferecer, como investimentos em adaptação, governança e em programas de redução de emissões.

As ideias analisadas pelo PNUMA e WRI vão desde vincular a implementação de políticas climáticas a padrões dos Direitos Humanos - o que facilitaria a obtenção de financiamentos internacionais - a taxar as emissões de companhias de transporte aéreo e marítimo.

No total, mais de 130 propostas de ONGs, governos e pesquisadores foram analisadas, condensadas e depois divididas em cinco áreas chave:

   - Opções sob o UNFCCC para aumentar a ambição das políticas: Propostas que preveem a expansão e o fortalecimento das regras de redução de emissões. De acordo com essas ideias, utilizar as ferramentas do Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC) é benéfico porque minimiza os custos de implementação e facilita a construção da confiança.

    - Opções fora do UNFCCC para aumentar a ambição das políticas: Sugestões multilaterais, bilaterais e domésticas para limitar as emissões. Por se tratar de soluções que envolvem menos países são de mais fácil aplicação e aceitação. Porém, oferecem o risco de enfraquecer políticas internacionais da ONU.

    - Meios de dividir o esforço de mitigação sob o UNFCCC: Várias ideias existem para dividir a responsabilidade entre os países para que seja possível chegar a um consenso sobre leis climáticas. Algumas sugerem distribuir os esforços de mitigação conforme as particularidades de cada nação, levando em conta critérios como emissões per capita e PIB.

   - O papel dos vários atores no monitoramento do desempenho de cada país na mitigação: A melhor proposta neste quesito seria a criação de padrões internacionais de monitoramento e verificação de emissões. Assim, ONGs e centros de pesquisa podem ajudar a policiar o que de fato está sendo feito pelos governos.

   - A forma jurídica do futuro acordo climático: Muitas são as opções a serem consideradas e não há um consenso sobre qual seria a ideal. As propostas vão desde permitir que os países adotem compromissos individuais sem a necessidade da criação de um acordo com força de lei até a adoção imediata de um novo tratado no estilo do Protocolo de Quioto.

“As propostas analisadas mostram que devemos utilizar todas as forças disponíveis e muitas instituições e atores podem assumir um papel mais ativo na questão climática. Assim, devemos mudar o discurso do 'não estamos fazendo o bastante' para 'como podemos fazer mais coletivamente'”, declarou Remi Moncel, do WRI e um dos autores do relatório.

De uma forma geral, o documento conclui que existem mais opções para combater as mudanças climáticas do que se pensava e que todas elas podem contribuir de alguma forma.

“Sabemos que mais precisa ser feito para alcançarmos os nossos objetivos climáticos. A realidade é que não existe falta de opções viáveis. Na COP17 os países tem a oportunidade de transformar essas ideias em ações e assim começar a reduzir a diferença entre o que fazemos e o que precisamos de verdade fazer”, resumiu Manish Bapna, presidente interino do WRI.

Fonte: Instituto CarboboBrasil / PNUMA

terça-feira, 25 de outubro de 2011

A ILUSÃO DE UMA ECONOMIA VERDE.

Tudo o que fizermos para proteger o planeta vivo que é a Terra contra fatores que a tiraram de seu equilíbrio e provocaram, em consequência, o aquecimento global é válido e deve ser apoiado. Na verdade, a expressão “aquecimento global” esconde fenômenos como: secas prolongadas que dizimam safras de grãos, grandes inundações e vendavais, falta de água, erosão dos solos, fome, degradação daqueles 15 entre os 24 serviços, elencados pela Avaliação Ecossistêmica da Terra (ONU), responsáveis pela sustentabilidade do planeta (água, energia, solos, sementes, fibras etc.). A questão central nem é salvar a Terra. Ela se salva a si mesma e, se for preciso, nos expulsando de seu seio. Mas como nos salvamos a nós mesmos e a nossa civilização? Esta é real questão que a maioria dá de ombros.

A produção de baixo de carbono, os produtos orgânicos, energia solar e eólica, a diminuição, o mais possível, de intervenção nos ritmos da natureza, a busca da reposição dos bens utilizados, a reciclagem, tudo que vem sob o nome de economia verde são os processos mais buscados e difundidos. E é recomendável que esse modo de produzir se imponha.

Mesmo assim não devemos nos iludir e perder o sentido crítico. Fala-se de economia verde para evitar a questão da sustentabilidade que se encontra em oposição ao atual modo de produção e consumo. Mas no fundo, trata-se de medidas dentro do mesmo paradigma de dominação da natureza. Não existe o verde e o não verde. Todos os produtos contem nas várias fases de sua produção, elementos tóxicos, danosos à saúde da Terra e da sociedade. Hoje pelo método da Análise do Ciclo de Vida podemos exibir e monitorar as complexas inter-relações entre as várias etapas, da extração, do transporte, da produção, do uso e do descarte de cada produto e seus impactos ambientais. Ai fica claro que o pretendido verde não é tão verde assim. O verde representa apenas uma etapa de todo um processo. A produção nunca é de todo ecoamigável.

Tomemos como exemplo o etanol, dado como energia limpa e alternativa à energia fóssil e suja do petróleo. Ele é limpo somente na boca da bomba de abastecimento. Todo o processo de sua produção é altamente poluidor: os agrotóxicos aplicados ao solo, as queimadas, o transporte com grandes caminhões que emitem gases, as emissões das fábricas, os efluentes líquidos e o bagaço. Os pesticidas eliminam bactérias e expulsam as minhocas que são fundamentais para a regeneração os solos; elas só voltam depois de cinco anos.

Para garantirmos uma produção, necessária à vida, que não estresse e degrade a natureza, precisamos mais do que a busca do verde. A crise é conceptual e não econômica. A relação para com a Terra tem que mudar. Somos parte de Gaia e por nossa atuação cuidadosa a tornamos mais consciente e com mais chance de assegurar sua vitalidade.

Para nos salvar não vejo outro caminho senão aquele apontado pela Carta da Terra:”o destino comum nos conclama a buscar um novo começo; isto requer uma mudança na mente e no coração; demanda um novo sentido de interdependência global e de responsabilidade universal”(final).

Mudança de mente significa um novo conceito de Terra como Gaia. Ela não nos pertence, mas ao conjunto dos ecossistemas que servem à totalidade da vida, regulando sua base biofísica e os climas. Ela criou toda a comunidade de vida e não apenas nós. Nós somos sua porção consciente e responsável. O trabalho mais pesado é feito pelos nossos parceiros invisíveis, verdadeiro proletariado natural, os microorganismos, as bactérias e fungos que são bilhões em cada colherada de chão. São eles que sustentam efetivamente a vida já há 3,8 bilhões de anos. Nossa relação para com a Terra deve ser como aquela com nossas mães: de respeito e gratidão. Devemos devolver, agradecidos, o que ela nos dá e manter sua capacidade vital.

Mudança de coração significa que além da razão instrumental com a qual organizamos a produção, precisamos da razão cordial e sensível que se expressa pelo amor à Terra e pelo respeito a cada ser da criação porque é nosso companheiro na comunidade de vida e pelo sentimento de reciprocidade, de interdependência e de cuidado, pois essa é nossa missão.

Sem essa conversão não sairemos da miopia de uma economia verde. Só novas mentes e novos corações gestarão outro futuro

Autor: Leonardo Boff   -   Fonte: Mercado Ético