Um dos argumentos mais utilizados pelos céticos do clima para negar as mudanças climáticas é o de que existem pesquisas que indicam que o aumento na liberação de CO2 durante a última Era do Gelo ocorreu depois do aumento das temperaturas, o que comprovaria que o crescimento das emissões de carbono não é responsável pelo aquecimento global. Mas agora, um novo trabalho chega para sugerir que essa conclusão não é verdadeira.
O estudo, desenvolvido por cientistas dos Estados Unidos, Reino Unido e Itália e publicado nesta semana no periódico Nature, indica que, na verdade, o que aconteceu foi o contrário: as emissões de dióxido de carbono aumentaram, elevando as temperaturas e encerrando o último período glacial.
Para chegar aos resultados encontrados, os pesquisadores analisaram amostras de gelo, sedimentos, conchas e fósseis de todo o mundo que datam do final da Era do Gelo, ou seja, de cerca de 11 mil anos. Os estudos anteriores analisavam apenas amostras coletadas na Antártica, o que sugere que os resultados obtidos antes diziam respeito a um processo regional, e não global.
Mas se o aumento das emissões de dióxido de carbono levou ao fim do último período glacial, o que causou essa elevação nas emissões? A resposta, segundo os estudiosos deste trabalho, está em um fenômeno conhecido como oscilações de Milankovitch. Essas oscilações provocaram uma pequena alteração na órbita da Terra, o que fez com que o Hemisfério Norte passasse a receber mais luz solar, e, consequentemente, mais calor.
Com esse calor, ocorreram modificações nas correntes do Oceano Atlântico, o que fez com que o calor do Hemisfério Sul se concentrasse na região ao invés de ser espalhado pela circulação das águas. Por fim, isso provocou a liberação de uma imensa quantidade de CO2 dos oceanos e do gelo antártico na atmosfera, o que, por sua vez, levou a um aumento de cerca de 3,5 graus Celsius na temperatura global.
O estudo, embora controverso, foi bem recebido por outros pesquisadores.
“O trabalho mostra que o aumento no CO2 atmosférico conduziu o aumento da temperatura global, mas também sugere que o gatilho inicial para o degelo foi algo diferente – um leve aquecimento e uma redução associada à circulação do Oceano Atlântico. Isso fez com que o dióxido de carbono começasse a sair dos oceanos profundos, e isso por sua vez conduziu as mudanças climáticas”, comentou Andrew Watson, da Universidade de East Anglia.
“[Isso] deve acabar de uma vez por todas com a falsa alegação de que o aumento no dióxido de carbono foi uma resposta passiva à elevação das temperaturas globais”, observou Mark Maslin, da Universidade College London.
De acordo com os cientistas que desenvolveram o estudo, ele deve ser importante para ajudar a entender as mudanças climáticas atuais. “Isso mostra que o aquecimento global pode ser amplificado pela liberação de carbono do derretimento do gelo permanente [e] que o carbono armazenado nesse gelo na região do Ártico é vulnerável ao aquecimento”, explicou David Beerling, da Universidade de Sheffield, um dos autores do trabalho.
Jeremy Shankun, da Universidade de Harvard, outro autor da pesquisa, chamou a atenção para o fato de que, desta vez, os níveis de dióxido de carbono estão aumentando cada vez mais rápido. “O CO2 foi um grande fator em tirar o mundo da última Era do Gelo e levou cerca de dez mil anos para fazê-lo”, declarou Shankun.
“No final da última era do gelo, o CO2 aumentou de cerca de 180 partes por milhão (PPM) na atmosfera para cerca de 260; e hoje estamos em 392. Agora os níveis de CO2 estão aumentando novamente, mas desta vez um aumento equivalente no CO2 ocorreu em apenas cerca de 200 anos, e há sinais claros de que o planeta já está começando a responder”, continuou.
Por isso, os autores enfatizaram a importância de se reduzir as emissões de gases do efeito estufa (GEEs) antes que o aquecimento global passe a ter consequências ainda mais sérias para o planeta.
“O aquecimento faz com que o gelo permanente derreta e que a decomposição de matéria orgânica lance mais gases do efeito estufa na atmosfera. Esse processo pode acelerar o aquecimento futuro. Isso significa que devemos barrar as emissões de dióxido de carbono lançadas pela combustão de combustíveis fósseis se a humanidade deseja evitar disparar esse tipo de processo em nosso mundo moderno”, ressaltou Beerling.
Eric Wolff, cientista da British Antarctic Survey, que não estava envolvido no trabalho, também saudou a descoberta, refletindo que “isso só nos lembra de que embora o clima possa parecer bastante estável para nós porque tem estado relativamente estável nos últimos milhares de anos, na verdade ele é capaz de sofrer grandes mudanças. Como colocou um famoso paleoclimatologista: ‘nós o cutucamos por nossa conta e risco’”.
Fonte: Instituto CarbonoBrasil/Agências Internacionais
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