quinta-feira, 5 de abril de 2012

ESTUDO INDICA QUE CO2 LEVOU A FIM DA ÚLTIMA ERA DO GELO.

Cientistas dos EUA, Reino Unido e Itália sugerem que, ao contrário do que apontavam pesquisas anteriores, foi o aumento nas emissões de dióxido de carbono que conduziu ao final do último período glacial, há cerca de 11 mil anos.
Um dos argumentos mais utilizados pelos céticos do clima para negar as mudanças climáticas é o de que existem pesquisas que indicam que o aumento na liberação de CO2 durante a última Era do Gelo ocorreu depois do aumento das temperaturas, o que comprovaria que o crescimento das emissões de carbono não é responsável pelo aquecimento global. Mas agora, um novo trabalho chega para sugerir que essa conclusão não é verdadeira.

estudo, desenvolvido por cientistas dos Estados Unidos, Reino Unido e Itália e publicado nesta semana no periódico Nature, indica que, na verdade, o que aconteceu foi o contrário: as emissões de dióxido de carbono aumentaram, elevando as temperaturas e encerrando o último período glacial.

Para chegar aos resultados encontrados, os pesquisadores analisaram amostras de gelo, sedimentos, conchas e fósseis de todo o mundo que datam do final da Era do Gelo, ou seja, de cerca de 11 mil anos. Os estudos anteriores analisavam apenas amostras coletadas na Antártica, o que sugere que os resultados obtidos antes diziam respeito a um processo regional, e não global.

Mas se o aumento das emissões de dióxido de carbono levou ao fim do último período glacial, o que causou essa elevação nas emissões? A resposta, segundo os estudiosos deste trabalho, está em um fenômeno conhecido como oscilações de Milankovitch. Essas oscilações provocaram uma pequena alteração na órbita da Terra, o que fez com que o Hemisfério Norte passasse a receber mais luz solar, e, consequentemente, mais calor.

Com esse calor, ocorreram modificações nas correntes do Oceano Atlântico, o que fez com que o calor do Hemisfério Sul se concentrasse na região ao invés de ser espalhado pela circulação das águas. Por fim, isso provocou a liberação de uma imensa quantidade de CO2 dos oceanos e do gelo antártico na atmosfera, o que, por sua vez, levou a um aumento de cerca de 3,5 graus Celsius na temperatura global.

O estudo, embora controverso, foi bem recebido por outros pesquisadores.

“O trabalho mostra que o aumento no CO2 atmosférico conduziu o aumento da temperatura global, mas também sugere que o gatilho inicial para o degelo foi algo diferente – um leve aquecimento e uma redução associada à circulação do Oceano Atlântico. Isso fez com que o dióxido de carbono começasse a sair dos oceanos profundos, e isso por sua vez conduziu as mudanças climáticas”, comentou Andrew Watson, da Universidade de East Anglia.

“[Isso] deve acabar de uma vez por todas com a falsa alegação de que o aumento no dióxido de carbono foi uma resposta passiva à elevação das temperaturas globais”, observou Mark Maslin, da Universidade College London.

De acordo com os cientistas que desenvolveram o estudo, ele deve ser importante para ajudar a entender as mudanças climáticas atuais. “Isso mostra que o aquecimento global pode ser amplificado pela liberação de carbono do derretimento do gelo permanente [e] que o carbono armazenado nesse gelo na região do Ártico é vulnerável ao aquecimento”, explicou David Beerling, da Universidade de Sheffield, um dos autores do trabalho.

Jeremy Shankun, da Universidade de Harvard, outro autor da pesquisa, chamou a atenção para o fato de que, desta vez, os níveis de dióxido de carbono estão aumentando cada vez mais rápido. “O CO2 foi um grande fator em tirar o mundo da última Era do Gelo e levou cerca de dez mil anos para fazê-lo”, declarou Shankun.

“No final da última era do gelo, o CO2 aumentou de cerca de 180 partes por milhão (PPM) na atmosfera para cerca de 260; e hoje estamos em 392. Agora os níveis de CO2 estão aumentando novamente, mas desta vez um aumento equivalente no CO2 ocorreu em apenas cerca de 200 anos, e há sinais claros de que o planeta já está começando a responder”, continuou.

Por isso, os autores enfatizaram a importância de se reduzir as emissões de gases do efeito estufa (GEEs) antes que o aquecimento global passe a ter consequências ainda mais sérias para o planeta.

“O aquecimento faz com que o gelo permanente derreta e que a decomposição de matéria orgânica lance mais gases do efeito estufa na atmosfera. Esse processo pode acelerar o aquecimento futuro. Isso significa que devemos barrar as emissões de dióxido de carbono lançadas pela combustão de combustíveis fósseis se a humanidade deseja evitar disparar esse tipo de processo em nosso mundo moderno”, ressaltou Beerling.

Eric Wolff, cientista da British Antarctic Survey, que não estava envolvido no trabalho, também saudou a descoberta, refletindo que “isso só nos lembra de que embora o clima possa parecer bastante estável para nós porque tem estado relativamente estável nos últimos milhares de anos, na verdade ele é capaz de sofrer grandes mudanças. Como colocou um famoso paleoclimatologista: ‘nós o cutucamos por nossa conta e risco’”.

Fonte: Instituto CarbonoBrasil/Agências Internacionais


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