Estão previstos 150
novos barramentos de rio, sendo que 50% serão de alto impacto ambiental e 80%
causarão perdas de florestas.
Uma das regiões de maior biodiversidade do planeta, a Amazônia está
sofrendo grande pressão por conta da construção de hidrelétricas. Estudo
publicado nesta quarta-feira (18 de abril) na revista "PLoS ONE"
revela que há projetos para 150 novas barragens nos seis maiores rios que
conectam os Andes à Amazônia. Isto representa um aumento de 300% em relação às
já existentes em uma área que se espalha por cinco países: Brasil, Bolívia,
Colômbia, Equador e Peru.
De acordo com a pesquisa, cujos autores principais são Matt Finer (das
ONGs Salve as Florestas da América e Centro para Leis Internacionais de Meio
Ambiente) e Clinton Jenkins (da Universidade da Carolina do Norte), mais da
metade das barragens seriam para grandes usinas, com capacidade superior a 100
megawatts. Cerca de 40% dos projetos já estão em estado avançado.
Ao analisar cada um dos 150 projetos, os pesquisadores observaram que
60% deles provocariam, em muitos rios, quebra da conectividade entre as
cabeceiras protegidas dos Andes e as planícies da Amazônia. Além disso, 80% das
barragens propostas vão provocar perda de florestas. Pelo menos 50% destas
novas construções foram consideradas de alto impacto ambiental e somente 19%,
de baixo.
"As cinco barragens de maior impacto ambiental estão associadas ao
acordo energético entre Peru e Brasil (Inambari, Mainique, Paquitzapango, Tambo
40 e Tambo 60), por causa da fragmentação do rio e da necessidade de construção
de estradas, linhas de transmissão e de infraestrutura", destacou Finer.
Os Andes fornecem a maioria dos sedimentos, nutrientes e matéria
orgânica para a Amazônia. Muitas espécies de peixes amazônicos desovam em rios
que dependem da influência andina, incluindo os que migram para as cabeceiras.
"A energia hidrelétrica pode ser boa se houver um planejamento
estratégico", ressaltou Finer. "Recomendamos que as barragens de
baixo impacto sejam priorizadas, e as de alto, eliminadas, com cuidadosa
reconsideração em relação às de médio impacto. Além disso, é preciso evitar a
perda da conexão entre os Andes e a Amazônia".
Para o geólogo Albano Araújo, coordenador de Conservação de Água Doce da
ONG The Nature Conservancy (TNC), a construção de barragens é a principal
ameaça não apenas à Amazônia, mas também ao Pantanal. Ele participou de uma
pesquisa publicada em fevereiro que avaliou os riscos ecológicos na bacia do
Rio Paraguai.
"A barragem quebra a conectividade ao longo do rio e a chamada
conectividade lateral. A variação entre seca e cheia cria áreas que inundam
regularmente. Vários processos ecológicos na Amazônia dependem desta inundação
sazonal", explicou. "É necessário levar em conta a questão ecológica
para decidir se há ou não barragens. E os impactos podem ser minimizados na construção
e na operação".
Ainda é necessário realizar mais estudos para entender melhor as
consequências ambientais de barragens, ressalta Jenkis. "A interrupção da
conexão entre entre os Andes e as planícies da Amazônia é muito importante.
Ainda há muitas incertezas porque ainda é um sistema pouco estudado. O impacto
total das barragens propostas ainda não é conhecido, mas isto deveria ser
determinado antes da construção delas, e não depois, quando será tarde
demais", ressaltou Jenkis.
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